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Você sabia? A amarelinha da seleção surgiu após o “Maracanaço”

O uniforme brasileiro tradicional surgiu após um dos maiores reveses da história do futebol e foi criado em um concurso
2022-11-15 20:15:16

 

Uma história pitoresca envolvendo a seleção brasileira é o Maracanaço. O termo faz referência à partida que decidiu a Copa do Mundo de 1950, entre Brasil e Uruguai. A vitória da Celeste, por 2 a 1, abalou a equipe do Brasil e toda a nação. O fatídico jogo aconteceu no Estádio do Maracanã, recém inaugurado no Rio de Janeiro. O Maracanaço, como ficou conhecido o episódio, assombra os torcedores até hoje, marcado como uma dos maiores vexames na história do futebol brasileiro.

A parte positiva é que o Maracanaço não foi só infelicidade para o país, a situação também serviu para o surgimento de um dos maiores símbolos da seleção pentacampeã: a camisa canarinho. Você sabe como e quando ela surgiu?

 

Réplica da camisa usada pela seleção brasileira em 1930/ (Museu do Futebol)

 

Um concurso para definir o uniforme brasileiro

Um dos símbolos mais famosos do Brasil, a camisa canarinho, não nasceu com a seleção brasileira. A criação do uniforme na cor que conhecemos hoje aconteceu após a Copa de 1950, ano da derrota para o Uruguai, em pleno Maracanã. No gramado, ficou o sonho de conquistar a primeira taça mundial.

Em 1953, uma iniciativa do jornal carioca Correio da Manhã, em parceria com a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), entidade gestora do futebol brasileiro à época, promoveu um concurso para a escolha de um novo uniforme para a seleção nacional. Até então, a equipe brasileira usava um uniforme branco, apontado como “inexpressivo” em campo.

O consenso era que a cor neutra não transmitia a ideia da nacionalidade brasileira, a exemplo de outras seleções vizinhas, como uruguaios e argentinos. Por isso, uma das regras do certame era a presença obrigatória das quatro cores da bandeira do Brasil. Além disso, o novo uniforme deveria ser completo, camisa, calção e meias. O símbolo da CBD deveria constar em alguma parte do conjunto. A palavra “Brasil”, no entanto, não era exigência.

 

Réplica da camisa usada pela seleção brasileira em 1950/(Museu do Futebol)

 

Uma curiosidade: no campeonato Sul-Americano de 1916, na Argentina, o Brasil usou verde e amarelo. Porém, o modelo saiu de uso por pressão da elite brasileira que não concordava com o uso das cores nacionais em um uniforme de futebol. Em 1953, no entanto, a inclusão dos tons da bandeira era bem aceito.

O concurso para o novo uniforme após a frustração na derrota para o Uruguai chegou para renovar o sonho brasileiro com o esporte nacional. Tanto que cerca de 300 participantes enviaram suas ideias.

 

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Finalista do concurso foi um brasileiro de coração uruguaio

Curiosamente (ou por ironia do destino) a camisa amarela é criação de um brasileiro com coração uruguaio. O vencedor e criador da camisa canarinho era um brasileiro que viveu parte da sua existência na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Ele não apenas sofreu com a derrota da equipe comandada pelo técnico Flávio Costa, quanto festejou a vitória da Celeste.

 

Aldyr Garcia Schlee, criador da camisa canarinho/Divulgação

 

Seu nome é Aldyr Garcia Schlee, natural de Jaguarão (RS) e desenhista em jornais de Pelotas. Na adolescência, Schlee praticava seus rabiscos nas arquibancadas dos estádios, esboçando jogadas utilizando bonecos sobre papel, semelhante aos gols reproduzidos nos impressos do país vizinho, Uruguai.

 

Réplica da camisa usada pela seleção brasileira em 1958/Museu do Futebol

 

Segundo o artista, foram mais de 100 desenhos até chegar ao modelo apresentado. Após incluir na camisa duas faixas em X e outras duas em V (inspirado no manto do Vélez Sarsfield), Schlee concluiu que a camisa brasileira deveria ser toda amarela. O projeto incluiu calções azuis e brancos, com o verde e amarelo restritos à camisa.

Olhares mais atentos dirão que as cores do uniforme brasileiro não são os mesmos tons da bandeira. O vencedor do concurso explicou que o azul-cobalto do calção e o amarelo-ouro da camisa eram as cores que ele tinha à mão. Elas não apenas foram aceitas quanto estão no traje da seleção até hoje.

 

Esboços produzidos por Schlee para o concurso/Divulgação

A camisa de toda uma nação

 

Bem aceita, a nova camisa da seleção brasileira conquistou a simpatia de todos e foi rapidamente associada à boa sorte. Muito perto de conquistar o tão esperado título mundial, em 1958, o Brasil entrou em campo usando a camisa “canarinho” e representado por craques como Garrincha, Pelé, Zagallo e Didi.

Na final, contra a Suécia, a FIFA determinou que o time da casa (os suecos) usaria o uniforme oficial (igualmente amarelo), inviabilizando o uso da camisa canarinho em campo. Assim, foi necessário improvisar com a camisa brasileira número 2. Na ocasião, o chefe da delegação brasileira, Paulo Machado de Carvalho, decidiu que o Brasil jogaria de azul, cor do manto de Nossa Senhora Aparecida, a santa católica padroeira do Brasil.

 

A amarelinha em campo trazendo sorte ao Brasil

Com os títulos conquistados pelo Brasil após 1958 (bicampeonato em 1962, tri em 1970, tetracampeão em 1994 e penta em 2002), o chamado “futebol-arte” ganhou o mundo, atravessou fronteiras e se tornou referência para diversas equipes. A camisa canarinho se popularizou e ganhou status de símbolo nacional para além dos estádios.

 

Réplica da camisa usada pela seleção brasileira em 1954/Museu do Futebol