As forças de segurança de Pernambuco já estavam cientes dos episódios de violência extrema ocorridos em diversos bairros do Recife no último sábado (1º), antes do Clássico das Multidões, entre Santa Cruz e Sport. É o que aponta um relatório da Delegacia de Polícia de Repressão à Intolerância Esportiva (DPRIE).
A delegacia é responsável por reprimir crimes relacionados às partidas de futebol. O portal g1 teve acesso ao documento, que é elaborado antes da partida para ajudar a Secretaria de Defesa Social (SDS) a evitar que os episódios de violência acontecessem.
Clássico das Multidões
- Os rivais Santa Cruz e Sport se enfrentaram no sábado (1º), em mais um Clássico das Multidões;
- O Tricolor conseguiu se manter na liderança, somando 13 pontos (4 vitórias, 1 empate e 1 derrota). O Leão da Ilha está em 4º, com 9 pontos (2 vitórias, 3 empates e 1 derrota);
- Antes da partida, que acontece com torcida única, a capital pernambucana presenciou cenas de violência extrema, com confrontos envolvendo as torcidas organizadas das duas equipes.
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Polícia estava sabendo que organizadas do Santa Cruz e Sport planejavam confronto antes do clássico, diz relatório
Um dos trechos do documento da Polícia Civil aponta que os membros das organizadas estavam confeccionando armas caseiras e marcando “pistas" (assim são chamados os pontos para brigas de rua entre os integrantes).
"Vimos que os envolvidos se preparam para possíveis confrontos no dia 01/02/2025, aguardam com bastante expectativa. Como também conseguimos informes que os integrantes preparam bombas caseiras e barrotes com pregos para lesionar o rival com o maior dano possível, bem como danificar patrimônios privados e públicos no deslocamento até o estádio", diz o relatório da Polícia Civil.
Após os confrontos, pelo menos 12 pessoas foram internadas no Hospital da Restauração (HR), vítimas de agressão física. Até o último domingo (2), quatro seguiam na unidade. O estado de saúde delas não foi divulgado.
Entre as vítimas está um homem que foi espancado, teve as roupas arrancadas e foi violentado sexualmente com uma barra no meio da rua. A população ficou com medo de sair de casa no dia, com a circulação dos vídeos que mostravam um cenário de guerra.
Secretaria de Defesa Social diz que não houve falha no policiamento
Após o ocorrido, ainda no sábado (1º), o secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, afirmou que "não houve nenhuma falha no policiamento".
Carvalho disse, ainda, que os conflitos poderiam ter acontecido em qualquer ponto do Grande Recife, pelo grande número de torcedores na rua.
"Nós temos uma escolta que é feita das torcidas organizadas, só que isso pode irromper em qualquer lugar da Região Metropolitana. Foram 27 mil pagantes, se deslocando de vários locais, então o confronto pode ocorrer em qualquer ponto. Tinham 654 policiais, todos os recursos disponíveis da Região Metropolitana foram empenhados nessa ocorrência", afirmou o secretário, na ocasião.
No entanto, a alegação do secretário não segue o que diz o relatório da Polícia Civil, que apontou que os confrontos estavam sendo marcados antecipadamente por meio das redes sociais, e que eram de conhecimento da corporação.
Relatório da Polícia Civil de Pernambuco aponta conhecimento da corporação sobre os confrontos entre organizadas do Santa Cruz e Sport antes do clássico. Foto: Reprodução/PCPE
Torcida do Santa Cruz enviou documento à PM apontando qual trecho iria seguir
Após os confrontos, a torcida do Tricolor, que estava envolvida nos episódios, publicou uma nota nas redes sociais afirmando ter adotado “todas as medidas cabíveis para garantir a segurança de seus integrantes e sociedade como um todo".
Além disso, o grupo também publicou um documento protocolado junto à Polícia Militar de Pernambuco que informava qual trecho a organizada iria seguir, inclusive, com menção ao bairro da Torre, na Zona Oeste, onde grande parte dos conflitos aconteceram.
Ao g1, a Secretaria de Defesa Social (SDS) não respondeu se a torcida organizada do Sport anunciou de forma antecipada o trajeto que seria seguido e o motivo das torcidas se encontrarem mesmo conhecendo o trajeto a ser seguido e uma escolta da PM com cada torcida.
Organizada do Santa Cruz mostra documento que informava à PMPE o trajeto a ser seguido antes do clássico. Foto: Reprodução/Explosão Inferno Coral
No último domingo (2), a Polícia Civil informou, em nota, que:
- A Polícia Militar encaminhou 32 pessoas, envolvidas nas brigas entre as torcidas do Santa Cruz e Sport, às Delegacias de Polícia Civil, na Capital e Região Metropolitana do Recife;
- Antes do jogo, cerca de 650 pessoas foram conduzidas até o Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque);
- Após revista, 14 torcedores foram conduzidos à Central de Plantões da Capital (Ceplanc);
- Dos 14 conduzidos à Ceplanc, seis foram presos em flagrante delito e encaminhados para audiência de custódia. As demais oito pessoas, entre maiores e menores, tiveram procedimentos lavrados (TCOs), em seu desfavor;
- Quatro pessoas foram autuadas em flagrante na Delegacia de Paulista;
- Outras três pessoas foram presas em flagrante, no Cabo de Santo Agostinho, após um confronto no município;
- Os casos serão investigados pela Delegacia de Polícia de Repressão à Intolerância Esportiva;
- De acordo com informações do Hospital da Restauração, quatro pacientes, vítimas de agressão física, seguem internados na instituição, com quadro de saúde estável.
SDS informa que planejamento para eventos esportivos é feito com antecedência
A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco informou, em nota, que o planejamento de segurança para eventos esportivos é feito com antecedência. No plano, são considerados um "conjunto de variáveis, além das informações e documentações fornecidas pelas organizadas".
Nesse planejamento, segundo o órgão, são levados em conta fatores como trânsito, vias de acesso ao estádio, horários e rotas das torcidas e pontos estratégicos com risco de emboscadas ou confrontos.
"Apesar de todo o planejamento e da tentativa de antecipar possíveis crises, os fatos que ocorreram no último sábado (1º) fugiram do padrão esperado, exigindo uma resposta rápida e firme das forças de segurança. O efetivo atuou para evitar mortes e minimizar danos às pessoas e ao patrimônio, dispersando os grupos envolvidos e controlando os confrontos da maneira mais ágil possível", diz a SDS, em nota.
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