A equipe vinha de um bicampeonato da Copa do Brasil (2017 e 2018) e havia vencido o rival Atlético na final do Campeonato Mineiro. Eles não esperavam, porém, que o segundo semestre daquele ano marcaria o início da maior crise institucional da história do clube.
Após denúncias da TV Globo em maio de 2019, a Polícia Civil começou uma investigação sobre transações irregulares e uso de empresas de fachada para ocultar crimes cometidos dentro do clube. A partir daí, a Raposa não conseguiu deslanchar na temporada, foi eliminada de todas as competições que disputava e começou a luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro.
Quatro (4) técnicos –apenas em 2019 – tentaram salvar o Cruzeiro da queda à segunda divisão, que foi confirmada em 8 de dezembro daquele mesmo ano – o primeiro rebaixamento da história do clube.
A investigação e a queda para a Série B escancararam uma realidade que o torcedor não conhecia, e que era escondida por seus dirigentes: o clube tinha uma dívida de mais de R$1 bilhão, não possuía dinheiro em caixa para colocar os salários dos jogadores em dia, e enfrentaria sérios problemas na esfera jurídica em um curto prazo de tempo.
2020: o primeiro ano na Série B
Após o rebaixamento, o Cruzeiro tentou virar a página e iniciou uma revolução dentro do clube. O então presidente Wagner Pires de Sá foi convencido a renunciar ao cargo – que exercia desde 2017 –, houve a rescisão com vários jogadores caros, e o foco ficou em montar um time mais jovem e barato para retornar à elite do futebol brasileiro. Mas o sonho de reconstrução se tornou um pesadelo.
Um conselho gestor formado por empresários bem-sucedidos assumiu o controle do clube e ficou até que o presidente eleito, Sergio Santos Rodrigues, assumisse a presidência, em maio de 2020. A falta de dinheiro e as dívidas batendo na porta seriam os maiores desafios para o novo dirigente. O empresário Vittorio Medioli, um dos membros do conselho naquele momento, chegou a dizer que a única solução para o Cruzeiro era pedir falência e recomeçar do zero.
Diante da situação, a equipe foi eliminada rapidamente na Copa do Brasil e no Campeonato Mineiro de 2020 e, poucos dias antes do início da Série B, sofreu uma punição da FIFA com a perda de seis (6) pontos por não ter feito o pagamento a um clube árabe pela contratação do jogador Denílson, em 2016. O Cruzeiro, então, já iria iniciar a sua campanha na segundona com pontuação negativa na tabela.
Não bastassem os problemas citados, vários ex-jogadores começaram a processar o clube por não cumprir com os acordos de rescisão de contrato no início do ano. O atacante Fred, por exemplo, entrou com uma ação contra o Cruzeiro na qual cobrava mais de R$70 milhões na justiça. Outras sanções da FIFA também apareceram e o clube chegou, inclusive, a ficar proibido de fazer novas contratações durante o restante daquela temporada.
O resultado não podia ser diferente: a Raposa não conseguiu o acesso à Série A do Brasileirão. Mesmo após a contratação do famoso técnico Felipão, o 4º treinador naquela temporada, o Cruzeiro terminou a Série B na 11ª colocação e teria que jogar novamente a segunda divisão em 2021. Felipão não quis permanecer para o ano seguinte e seu empresário chegou a comentar que faltou até comida nas dependências do clube.
2021: o segundo ano na Série B e a greve dos jogadores
A temporada de 2021 parece quase uma “reprise” do ano anterior. Ex-jogadores e treinadores processaram o clube – como Rodriguinho, Edílson, Egídio e Rogério Ceni. As sanções da FIFA pelo não pagamento de dívidas a outros times também continuaram e, em junho, o Cruzeiro foi proibido novamente de fazer contratações por não ter pago o Defensor do Uruguai pela contratação do meia De Arrascaeta.
Para os torcedores, o início da temporada foi mais empolgante. O Cruzeiro ia bem no estadual e na Copa do Brasil e confiava muito no trabalho do jovem técnico Felipe Conceição. Os costumeiros atrasos salariais, porém, retornaram. O clube acabou sendo eliminado de todas as competições novamente, antes mesmo do início da Série B, e as trocas constantes de treinador também se repetiram. O atual comandante é Vanderlei Luxemburgo, o 3º nessa temporada.
Luxa assumiu o posto de Treinador do Cruzeiro em agosto e disse que seu aceite ao cargo estava condicionado à regularização dos salários dos atletas. O treinador ostentava um discurso otimista de recuperação e de levar o Cruzeiro de volta à elite do futebol nacional, mesmo com o time beirando a zona de rebaixamento para a Série C, na ocasião. A Raposa até melhorou, se distanciou da “zona da degola” e ocupa, nesse momento, a 12ª colocação da Série B do Campeonato Brasileiro. O problema é que apenas os quatro (4) primeiros colocados sobem para a 1ª divisão, e o clube está a 11 pontos do 4º colocado, faltando somente oito (8) rodadas para o fim do torneio. A chance de acesso é remota – mais precisamente, de 0,18%, de acordo com matemáticos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Os salários também não ficaram em dia. Os jogadores do Cruzeiro anunciaram, no início do mês de outubro, uma greve dos treinamentos pelo atraso de pagamento dos vencimentos e a falta de satisfação da diretoria. O goleiro Fábio, um dos maiores ídolos da história e atual capitão da equipe, disse: “Faremos a paralisação dos treinamentos em voz a todos os colaboradores que amam o clube e estão desamparados. Infelizmente, ficou intolerável e injustificável a forma como atletas e funcionários estão sendo geridos.”
Os jogadores ficaram quatro (4) dias sem se apresentarem para os treinamentos, e o clube agora teme uma nova punição da FIFA por perda de pontos, dessa vez devido aos atrasos salariais. O Cruzeiro se prepara para o terceiro ano na 2ª divisão, novamente em cenário de pesadelo para o torcedor.
O que o futuro guarda para o Cruzeiro?
A torcida quer a renúncia do atual presidente, Sergio Santos Rodrigues, que não conseguiu, nas duas temporadas em que esteve no comando, resolver os intermináveis problemas do clube. O diretor, porém, disse que ainda confia na recuperação da Raposa e que busca investidores e empresários cruzeirenses para ajudar a modificar a situação.
Uma outra esperança para o torcedor é o projeto do Cruzeiro de se tornar clube-empresa. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aprovou uma lei, em agosto desse ano, que regulamenta a transformação de clubes de futebol em empresas. O problema é encontrar alguém disposto a assumir toda a situação do clube e colocar dinheiro em uma instituição sem crédito no mercado nacional e internacional.
Há luz no fim do túnel? Ou o Cruzeiro entrou em um buraco sem fim? Apesar do momento nebuloso que esse grande clube do futebol brasileiro atravessa, sua enorme torcida não desiste e sonha em vê-lo levantar, novamente, as taças da Libertadores e do Brasileirão – e voltar aos seus dias de glórias.
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