Há espaço para os técnicos brasileiros no comando de times da Europa?

Brasileiros têm dificuldades para se firmar na Europa
2022-02-13 18:35:13

Uma discussão comum no nosso futebol é a falta de treinadores brasileiros nos principais times da Europa. Enquanto outros países, como a Argentina, exportam talentos para o Velho Continente, o Brasil coleciona experiências mal-sucedidas e não consegue emplacar seus profissionais.

Não existe uma explicação definitiva, porque muitos fatores contribuem para essa ausência de oportunidades. Fato é que, nos últimos tempos, nenhum treinador sequer foi cogitado para assumir uma grande equipe de fora do país, enquanto os que tiveram a chance não se saíram bem.

Grandes treinadores brasileiros não tiveram sucesso na Europa

É difícil citar um exemplo de treinador brasileiro que teve muito sucesso na Europa. Zico talvez seja uma exceção, pois virou o “Rei Arthur” no futebol turco, mas não treinou grandes times do continente. Na verdade, aqueles que alcançaram as ligas principais não ficaram por muito tempo lá.

Relembre a passagem de alguns treinadores brasileiros pelo futebol europeu!

  • Vanderlei Luxemburgo: único técnico brasileiro a dirigir o Real Madrid, não teve resultados ruins, mas entrou em polêmicas com o elenco, brigou com o presidente e foi demitido em menos de um ano.
  • Luiz Felipe Scolari: pentacampeão do mundo, teve uma boa passagem pela seleção de Portugal, onde foi vice da Euro 2004 e alcançou a semifinal da Copa de 2006. Depois, se transferiu para o Chelsea e ficou conhecido como “Big Phil”, mas os resultados não vieram e encurtaram sua carreira na Europa.
  • Carlos Alberto Parreira: outro campeão do mundo, Parreira fechou com o Valencia antes de começar o Mundial de 1994. Mesmo com grandes contratações, como Mazinho, falhou na entrega de resultados. Foi para o Fenerbahce e conquistou o Campeonato Turco, mas retornou ao Brasil em 1996.
  • Zico: o ídolo rubro-negro fez um trabalho sólido no Fenerbahce, onde avançou até as quartas da Champions League. Depois, treinou o Olympiacos, da Grécia, mas não repetiu o mesmo sucesso e foi demitido.
  • Abel Braga: teve passagem meteórica pelo Olympique de Marselha, em 2000 — fez apenas 16 jogos antes de ser demitido. Em 2021, foi contratado pelo Lugano, mas também não durou muito tempo na Suíça.

Outros treinadores também tiveram oportunidades na Europa, como Sylvinho e Leonardo. Esse último, por sinal, treinou Inter de Milão e Milan, mas teve mais sucesso como dirigente e atualmente está no Paris Saint-Germain.

Técnicos argentinos têm mais espaço

Ao contrário do Brasil, os nossos vizinhos argentinos estão espalhados por grandes clubes da Europa. Os dois mais conhecidos são Diego Simeone, que está há 11 anos à frente do Atlético de Madrid, e Mauricio Pochettino, que treina o PSG.

Também podemos citar Marcelo Bielsa (Leeds United) e Jorge Sampaoli (Marselha) como outros casos de sucesso. Sem dúvida, a proximidade cultural do país com a Europa é um atalho, mas há também uma questão de personalidade e investimento. Desde 1963, o país tem um curso voltado para formar treinadores, ou seja, estão mais capacitados do que os brasileiros.

Possíveis explicações para a falta de brasileiros nas ligas europeias

É difícil explicar o motivo desse afastamento entre treinadores brasileiros e o futebol europeu. Como vimos, nomes conhecidos tiveram a chance de assumir clubes gigantes do Velho Continente, mas não conseguiram ter sucesso. A barreira cultural é inegável, principalmente porque muitos profissionais não falam inglês.

Há um conforto no futebol brasileiro também. Nomes como Luxemburgo e Abel Braga, por exemplo, têm mercado no país mesmo sem grandes resultados nos últimos anos. Sempre que algum técnico é demitido, eles aparecem como prováveis substitutos. Logo, não há grande interesse nos dirigentes em desenvolver novos talentos ou apostar em jovens promessas da atividade.

Ao mesmo tempo, os treinadores de elite recebem bons salários no Brasil e, quando querem condições financeiras melhores, buscam países como Emirados Árabes e Qatar. A possibilidade de receber em Euro e ter reconhecimento internacional é sedutora, mas as experiências ruins no passado e a zona de conforto no Brasil não incentivam a “exportação” de treinadores.

Mercado do Oriente Médio é alvo dos brasileiros

Nas últimas décadas, o futebol do Oriente Médio se transformou em um destino comum para técnicos brasileiros. O financeiro é o principal fator, porque os profissionais ganham salários bem acima daqueles pagos por aqui.

Além disso, são ligas mais tranquilas e com menos pressão de torcedores e imprensa por resultados. Portanto, muitos técnicos optam por aceitar esse tipo de proposta, trabalhar por alguns anos lá e depois voltar para o mercado brasileiro sem grande preocupação com títulos ou vitórias conquistadas no exterior.

Novas tentativas no futuro

O mercado não está aquecido, mas técnicos brasileiros da elite estão de olho em oportunidades no exterior. Cuca, Renato Gaúcho e Rogério Ceni foram convidados para fazer o curso Licença PRO, da CBF Academy, que é reconhecido por entidades internacionais.

Dessa forma, eles cumprem um pré-requisito para receber propostas de clubes europeus e, quem sabe no futuro, fechar com um time de expressão do Velho Continente. É verdade que esse parece um cenário distante no momento, mas o futebol brasileiro segue no radar das grandes potências e nada pode ser descartado.