“Em dezembro de 81, botou os ingleses na roda”. A música que empurrou o time de Jorge Jesus para o bicampeonato da Libertadores em 2019 faz referência a um momento único na história: o título mundial do Flamengo em 1981, sob o comando do ídolo máximo Zico.
A vitória por 3 a 0 sobre o Liverpool está prestes a completar 40 anos no próximo dia 13 de dezembro. Esse foi o ápice de uma geração que encantou o Brasil e ficou marcada na história. Não há homenagem melhor do que relembrar essa conquista!
Liverpool favorito, mas só no papel
O Liverpool era uma das grandes sensações do futebol mundial naquele início dos anos 80. O time inglês era liderado por Kenny Dalglish, o maior jogador da história do clube, e vinha de uma sequência de títulos, sendo três da Copa dos Campeões (atual Champions League).
O último, que o credenciou a disputar a Copa Intercontinental em 1981, foi vencido em cima do todo poderoso Real Madrid, por 1 a 0. Além de Dalglish, outros nomes que também estão no rol de lendas do clube, como Phil Neal e Terry McDermott, faziam parte da equipe.
Por isso, os Reds viviam o melhor momento da sua história e eram considerados amplamente favoritos no Japão. Mais do que isso, o objetivo era comprovar novamente a superioridade do futebol inglês.
A Era Zico e suas estrelas
O Flamengo da década de 80 é lembrado até hoje como um dos maiores times do futebol brasileiro. A grande estrela da companhia, claro, era Arthur Antunes Coimbra, o Zico. Ele chegou ainda jovem ao clube, no final da década de 60, e já demonstrava seu talento nos primeiros anos de profissional.
Mas foi a partir de 1978 que, sob o comando do Galinho, o Flamengo entrou em seus tempos áureos. Poucas vezes jogadores da qualidade de Raul, Leandro, Júnior e Adílio, apenas para citar alguns, atuaram juntos. Poderia ser a Seleção Brasileira, mas era o Flamengo.
Depois de vencer o Brasileirão em 1980 e o Carioca e a Libertadores em 1981, o Mundial era o título que faltava, mas para isso era preciso vencer o Liverpool. Antes, apenas um clube brasileiro, o Santos de Pelé, havia vencido rivais europeus e conquistado o mundo, em 1962 e 1963.
As escalações de Flamengo e Liverpool
O Liverpool foi com a sua força máxima disponível para a decisão da Copa Intercontinental. O Flamengo campeão mundial entrou com aquela escalação que todo torcedor sabe de cor. A principal mudança foi a volta de Lico para o time, depois de não jogar a decisão da Libertadores por lesão.
Na ocasião, o técnico Paulo César Carpegiani escalou Nei Dias na lateral e mudou Leandro para o meio-campo, mas voltou com o esquema tradicional para a grande final. Relembre as escalações!
Flamengo
Titulares: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio, Zico, Tita e Lico; Nunes. Técnico: Paulo César Carpegiani.
Reservas: Cantarele, Nei Dias, Figueiredo, Peu e Baroninho.
Liverpool
Titulares: Grobbelaar, Neil, Thompson, Hansen e Lawrenson; Lee, McDermott, Souness e Kennedy; Dalglish e Johnston. Técnico: Bob Paisley.
Reservas: Ogrizovic, A. Kennedy, Sheedy, Whelan e Johnson.
Como foi a final do Mundial do Flamengo
A decisão da Libertadores, contra o Cobreloa, foi definida em três jogos cerca de 20 dias antes da Copa Intercontinental. Foram jogos recheados de muita tensão, catimba e provocações dos chilenos. Agora, era hora de provar sua superioridade também do outro lado do mundo.
Outra motivação do Flamengo era dedicar o título a Cláudio Coutinho, técnico campeão brasileiro e responsável por montar a base desse time. Ele faleceu no fim de novembro de 1981, dias antes da final, vítima de um afogamento.
Em campo, o favoritismo do Liverpool ficou apenas no papel, porque o show foi rubro-negro para os mais de 60 mil presentes no Estádio Nacional, em Tóquio. Com a camisa 7, Kenny Dalglish pouco apareceu na partida e foi facilmente anulado pelo sistema defensivo adversário.
Baile rubro-negro no primeiro tempo
Nos primeiros minutos, os dois times trocaram finalizações sem perigo com Souness e Adílio. Mas aos 13 minutos, o massacre começou. Zico fez um lançamento perfeito para Nunes, que aproveitou a saída ruim do goleiro para tocar por cobertura e abrir o placar.
Esse não era o início esperado pelos Reds. Eles foram para o ataque e tiveram uma boa oportunidade em chute de Johnston, mas Raul era um mero espectador. Se a derrota parcial era ruim, a situação ficaria ainda pior e o talento de Zico novamente seria protagonista.
Aos 34 minutos, Tita sofreu falta na intermediária e o camisa 10 foi para a cobrança. A bomba para o gol até foi defendida por Grobbelaar, mas o rebote sobrou nos pés de Adílio, que fez o segundo.
A confiança e superioridade rubro-negra ainda tiveram mais um capítulo no primeiro tempo. E novamente com a dupla Zico e Nunes. Aos 41, o meia recebeu e lançou o atacante na ponta direita. Mais rápido que a defesa, invadiu a área e bateu cruzado para fazer o 3 a 0. Um verdadeiro atropelo.
Contando os minutos para comemorar
O segundo tempo do Mundial do Flamengo foi uma contagem regressiva para soltar o grito de “campeão”. Porém, isso não impediu que os cariocas novamente demonstrassem a sua qualidade e capacidade técnica para dominar os ingleses.
Abalado com o resultado, o Liverpool não conseguiu sequer pressionar e marcar o seu gol de honra. Pelo contrário, Raul pouco participou da segunda etapa e praticamente ganhou ingresso de camarote para assistir ao show do Mais Querido em campo.
Com 3 a 0 no placar, o time carioca administrou o resultado com seu toque de bola. E foi assim até o apito derradeiro do árbitro mexicano Rúbio Vazques. O time estrelado de Carpegiani era campeão mundial e colocava o futebol brasileiro no topo novamente!
Reconhecimento da FIFA como campeão mundial
A Copa Intercontinental, também conhecida como Copa Europeia/Sul-Americana, era organizada em parceria da CONMEBOL com a UEFA e não tinha a chancela da FIFA.
O primeiro Mundial organizado pela entidade foi em 2000, quando o Corinthians derrotou o Vasco nos pênaltis em pleno Maracanã. Desde 2005, a FIFA organiza a competição anualmente, com representantes de todos os continentes.
Porém, em 2017, a entidade máxima do futebol reconheceu os times vencedores da Copa Intercontinental, entre 1960 e 2004, como campeões mundiais. Assim, o título mundial do Flamengo se tornava oficial, ainda que ninguém tivesse dúvidas sobre isso.