De um passado de sonhos à incerteza – O que o futuro guarda para Daniel Alves?

Enquanto ainda jogava na Europa, onde se tornou o jogador com mais títulos conquistados na história do futebol e virou ídolo do Barcelona.
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Publicado em 01/11/2021 às 09h57

Enquanto ainda jogava na Europa, onde se tornou o jogador com mais títulos conquistados na história do futebol e virou ídolo do Barcelona, Daniel Alves sempre disse ser são-paulino, e que o seu sonho de criança era jogar no clube de coração. O sonho, enfim, se tornou realidade no dia 2 de agosto de 2019, quando o craque acertou com o Tricolor Paulista por três (3) temporadas.

A apresentação do atleta foi de gala: com cerca de 44 mil torcedores no estádio do Morumbi, além de presenças ilustres como a de Hernanes, Kaká e Luís Fabiano – ídolos que foram os responsáveis por lhe entregar a camisa oficial do clube.

“Não deixem de acreditar em vossos sonhos, porque eles são possíveis. Agora, depois de ter rodado o mundo, é o primeiro clube que visto a camisa e sou torcedor”, disse Dani, em sua apresentação no São Paulo.

O início não poderia ser melhor: logo na estreia, em partida contra o Ceará pelo Brasileirão, Dani Alves foi o responsável por marcar o gol da vitória de 1 a 0. Tudo indicava para uma parceria de sucesso e de longa duração. Mas a história não foi bem assim.

Após ter atuado como lateral-direito durante toda a sua carreira, o jogador preferiu jogar na posição de meio-campista no novo clube. Ele foi o articulador e capitão da equipe nos dois (2) primeiros anos. Mas a verdade é que ele não conseguiu render o esperado na nova função, retornando para a sua posição de origem após a chegada do técnico argentino Hernán Crespo, em 2021.

As atuações abaixo do esperado e a falta de pagamentos por parte da diretoria são-paulina foram criando uma ”bomba”, que estourou quando o atleta estava servindo a Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em agosto.

Após a conquista do ouro olímpico, Dani Alves desabafou em relação às críticas de torcedores, que diziam que ele havia abandonado o clube para jogar na Seleção em um momento delicado da equipe. “As pessoas falam porque não conhecem minha dedicação, entrega e respeito com o São Paulo, sendo que o São Paulo muitas vezes falhou comigo, e eu não falho com o São Paulo”, disparou.

Um mês após a declaração, a diretoria do time paulista, em entrevista coletiva, comunicou que o jogador não faria mais parte da equipe. O clube disse que Dani Alves se recusou a se reapresentar após servir a Seleção Brasileira até que toda a dívida do Tricolor com ele fosse paga – o valor está acima dos R$20 milhões. Por conta do posicionamento do atleta, a diretoria decidiu pelo rompimento do contrato.

Do sonho ao pesadelo

Após a rescisão, Daniel Alves entrou em guerra com a diretoria e torcida do São Paulo, que não tiveram papas na língua ao comentar sobre a saída do atleta. Jornalistas também fizeram duras críticas ao jogador, que respondeu em alguns casos. A relação, que era a realização de um sonho, como disse o próprio jogador, se tornou um pesadelo.

“Ninguém é maior que o clube”, disse Carlos Belmonte, diretor de futebol do Tricolor, ao anunciar a saída do atleta. Dani respondeu, dias depois, em entrevista: “Eu queria saber de onde eles tiraram isso que eu queria ser maior que o São Paulo. Desde que eu cheguei, o São Paulo estava me devendo, meu B.O. eu resolvo em off. Eu nunca declarei que o São Paulo estava me devendo, e eles declararam isso, estavam me expondo.”

Em relação às críticas de torcedores, Dani disse que virou alvo, o que também motivou sua saída: “Era tudo culpa do treinador e minha, quando o treinador saiu eu me ferrei, porque botaram toda a culpa em mim. Aí foi em mim e no goleiro, agora eu saí, o goleiro se ferrou também. Então pensei: ‘não vou ficar aqui perdendo meu tempo, se o próprio entorno parece não querer’.”

Importantes jornalistas esportivos do país também não pouparam o lateral. Casagrande disse que ele “parecia se achar mais importante do que o clube”. Juca Kfouri comentou: “Não quero no meu time um cara que se acha o maior”. O apresentador Neto disse que Daniel saiu do São Paulo “por causa de dinheiro”, fazendo com que o craque o respondesse nas redes sociais: “Neto fala um monte de m…”.

A proposta esperada nunca veio?

Mesmo com toda a confusão, o fato era: Daniel Alves estava sem clube. Um jogador desse quilate iria, com certeza, chamar a atenção de vários outros times, mesmo aos 38 anos de idade. O lateral disse abertamente querer disputar a Copa do Mundo de 2022 e, para isso acontecer, teria que fechar com um clube de bom nível para chamar a atenção do técnico Tite, da Seleção.

Dani Alves tinha um salário de R$1,5 milhão no São Paulo, um valor que o atleta parecia não estar disposto a diminuir para fechar com outro clube. O primeiro interessado no futebol do jogador foi o Flamengo. Notícias deram conta de que o lateral era sonho antigo do presidente do clube, Rodolfo Landim, mas o diretor estabeleceu um teto de R$750 mil mensais para a contratação do jogador. A negociação esfriou em pouco tempo e, de acordo com os bastidores do futebol, o clube carioca não chegou a fazer uma proposta oficial ao veterano.

O Fluminense, rival do Flamengo, procurou Dani Alves e ofereceu um salário de R$600 mil mais bônus por metas, em um contrato que seria válido até o final de 2022. O jogador apresentou uma contraproposta de R$1 milhão por mês – muito acima do que o Tricolor carioca poderia pagar.

O lateral revelou ter quase fechado com o Athletico Paranaense. De acordo com o craque, esse foi o clube em que ele esteve mais perto de fechar, mas o acordo acabou não se oficializando.

A impressão que passou, porém, foi a de que Dani estava esperando uma boa proposta do exterior, que acabou não vindo. Reportagens relataram que apenas clubes árabes fizeram ofertas para o jogador. Essas equipes, porém, não são capazes de mantê-lo com visibilidade suficiente para continuar brigando por uma vaga na Copa do Mundo do ano que vem.

A ida para a Europa foi travada pois, quando ele rescindiu com o São Paulo, a janela de transferências do Velho Continente já estava fechada. Ela será reaberta somente em janeiro, curiosamente a data em que Daniel estipulou para retornar aos gramados.

Dani Alves decide não fechar com nenhum clube

Após o fim das negociações e especulações, Daniel Aves comunicou em suas redes sociais, no dia 24 de setembro, que não assinaria com nenhum outro clube até o fim do ano.

“Venho aqui comunicar que optei por não assinar com nenhum clube para o resto do ano. Vim ao Brasil por um sonho de criança, e o sonho foi realizado. Ser campeão com o clube do coração não tem preço. Não é sobre dinheiro, é sobre valores, é sobre hombridade, é sobre caráter, é sobre legado” – escreveu.

“As decisões difíceis precisam ser tomadas, mas como sempre nada na minha vida foi fácil. É apenas mais uma decisão. Agradeço a todos pelo interesse, mas gostaria que o capitulo fosse fechado sem nenhuma interferência. Sei que foi comentado muitas coisas, mas a verdade é só uma, vim aqui por um sonho e saio daqui realizado. Muito obrigado” – completou Daniel.

O veterano de 38 anos ainda colocou as hashtags #NÃOACABOU #EUVOLTAREI para confirmar que não iria, ainda, pendurar as chuteiras.

Futuro e o sonho de jogar a Copa de 2022

Daniel Alves já chegou a dizer que, no Brasil, só jogaria no São Paulo. As coisas mudaram. Em entrevista no início do mês de outubro, o experiente jogador deixou o futuro em aberto e disse ter preferência de retornar ao exterior, sem descartar o futebol brasileiro. Ele afirmou, apenas, que precisa estar jogando para conseguir retornar à Seleção Brasileira e ter a chance de disputar novamente a Copa do Mundo.

“Não sei (se vou ficar no Brasil), não vou colocar planos que talvez não vá cumprir. A ideia principal é ir para fora, voltar para a cena de alto nível de futebol, que vá me dar possibilidade de competir, é o que eu faço, em qualquer lugar que eu estiver”, disse.

Números pelo São Paulo

Daniel jogou 95 partidas pelo Tricolor nas três (3) temporadas defendendo o clube. Ele marcou dez (10) gols e deu 14 passes para gol. Foi apenas um (1) título: o Paulistão de 2021.

O São Paulo planejava pagar os salários do jogador com ações de marketing. Ao anunciar a sua saída, o clube declarou não ter tido receitas significativas no período com ele. O maior legado acabou sendo a dívida de R$24 milhões, que vai ser paga em 60 prestações de R$400 mil.

O futuro de Daniel Alves, por enquanto, permanece incerto. Mas há uma certeza: não podemos duvidar da capacidade do jogador que mais venceu torneios na história do futebol em todos os tempos.

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