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Entre guerra e paz: carreira de Mihajlović teve ajuda as crianças abandonadas a falas racistas, machistas e outras polêmicas

Jogador e treinador falecido nesta sexta-feira (16) teve filho fora do casamento e colecionou momentos polêmicos
Publicado em 16/12/2022 às 18h55

O sérvio Siniša Mihajlović faleceu nesta sexta-feira (16) vítima de uma leucemia da qual lutava desde 2019. A família emitiu um comunicado informando o falecimento do ex-jogador e então treinador de futebol.

Apesar de querido em muitos clubes e ter feito muitos amigos no futebol, quando jogador, Mihajlović colecionou algumas polêmicas. Fora dos gramados, já como treinador, também teve falas que não foram bem vistas.

Por outro lado, já vestiu camisa pela paz e contra a guerra. Além disso, casou-se com a famosa apresentadora italiana, Ariana, com quem teve cinco filhos: Victoria e Virginia (que participaram do reality show italiano “Ilha das Celebridades”), bem como Miroslav, Dušan e Nikolas.

Se casaram no civil em Roma em 1996 e em 2005 em um mosteiro em Sremski Karlovci. Nos convites de casamento, escreveram que não queriam presentes, mas sim que todos que pretendessem dar-lhes algo deveriam ajudar o Lar Dečje, dedicado às crianças abandonadas em Sremski Karlovci.

Apesar de todo o amor por Ariana, Siniša também tem um filho ilegítimo, Marko, fruto de uma relação extraconjugal. Mihajlović contou a sua esposa que o incentivou a reconhecer e apresentar aos filhos. Assim, o sustentou e educou. A saber, Marko é o filho mais velho de Miha.

Adeamis, Siniša ficou conhecido como um dos melhores e mais criativos cobradores de falta do mundo. Inclusive ele é, junto a Giuseppe Signori, os únicos jogadores do Campeonato Italiano a marcar três gols em uma partida de cobrança de falta. Bem como, também detém o recorde de mais gols marcados em cobrança de falta na Série A ao lado de Andrea Pirlo (28).

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Siniša Mihajlović: um anti-herói sérvio que viveu à flor da pele

Siniša Mihajlović teve uma infância humilde. Nasceu em Vukovar (atual Croácia) em 20 de fevereiro de 1969. Vem de uma família trabalhadora e é fruto de um casamento misto. Isso porque seu pai, Bogdan, é um sérvio e sua mãe, Viktorija, é croata.

​​​Seu pai dirigia caminhões e trabalhava em Gradjevinar, enquanto sua mãe trabalhava em uma fábrica de borracha e calçados. A família morava em Borovo Selo, onde Miha começou a jogar nas categorias de base do Borovo, clube do qual se profissionalizou. Ficou dois anos no clube e chamou à atenção do Vojvodina.

Com mais dois anos por lá chegou ao Estrela Vermelha, time de Belgrado, capital da Sérvia e maior cidade no território da ex-Iugoslávia. Mudando-se para lá sozinho aos 20 anos para acertar com o clube do qual venceu a UEFA Champions League de 1990/91.

Amizade com criminoso de guerra racista e fascista pela vida dos pais

Durante seu período em Belgrado, jogando pelo Estrela Vermelha, a Iugoslávia passou por uma série de violentos conflitos bélicos entre 1991 e 2001. O conflito foi motivado pela ideia de serem realizadas diversas limpezas étnicas em áreas majoritariamente povoadas por sérvios, dentro da Iugoslávia, e uma eventual união destas áreas com a Sérvia propriamente dita, criando assim um Estado povoado por uma esmagadora maioria de etnia sérvia.

A ideia de uma “Grande Sérvia” foi a motivação e a meta principal para muitos dos combatentes sérvios e voluntários envolvidos no conflito. Dezenas de milhares de não-sérvios foram mortos (mais de 100 mil pessoas morreram no conflito) e centenas de milhares tiveram de fugir de suas casas, numa guerra que deixou um rastro de extrema violência.

Com a família de Mihajlović vivendo em Borovo, uma localidade croata tomada pelos independentistas, e onde se travaram violentos combates. Temendo pela vida de seus pais e irmãos, o jogador buscou uma forma de tirar sua família de lá. Foi então que acionou um amigo, dirigente do Estrela Vermelha, Zeljko Raznatovic.

Mihajlović e o criminoso de guerra Arkan / Foto: Twitter

Mihajlović e o criminoso de guerra Arkan / Foto: Twitter

Mais conhecido por Arkan, este amigo de Miha era ultranacionalista, fascista e racista. Durante a Guerra Civil Iugoslava, se tornou um criminoso de guerra sérvio, cujas ações incluíam importação de petróleo para seu país com sua tropa paramilitar, a Guarda Voluntária Sérvia. A saber, este grupo foi responsabilizado por diversos crimes de guerra na Croácia e na Bósnia e Herzegovina, matando cerca de 3 mil civis.

Entretanto, para Siniša, são heróis, afinal, uma ação do grupo paramilitar de Arkan permitiu resgatar sua família e trazê-los em segurança para território sérvio, um gesto que o jogador/treinador nunca esqueceu, apesar de Ražnatović ficar por muitos anos na lista dos mais procurados da Interpol.

Posteriormente, o amigo de Mihajlović adquiriu o FK Obilić, que se tornou campeão iugoslavo na temporada 1997/98. Também casou-se com uma popular cantora sérvia, dedicou-se a política, sendo opositor do presidente Slobodan Milosevic, tudo isso sem deixar de lado as atividades ilícitas. Foi morto a 15 de janeiro de 2000, na frente de um de seus hotéis em Belgrado, por um homem encapuzado.

Como consequência, Mihajlović provocou protestos públicos após prestar homenagem na imprensa de Belgrado, saudando o nacionalista falecido como seu amigo. Ele chegou a pedir aos torcedores da Lazio que brandissem uma bandeira em homenagem ao criminoso de guerra e até expôs o próprio torso para revelar o símbolo icônico do grupo.

Mihajlović foi visto como ultranacionalista, racista, fascista, machista e muito temperamental

Relação com outro criminoso de guerra: o presidente da Sérvia

O sérvio demonstrou a sua face patriota ainda enquanto jogador: “Se nacionalista significa patriota, se isso significa amar a minha terra e a minha nação, sim, eu sou”. Enquanto jogava no Estrela Vermelha, foi elogiado pelo Presidente da Sérvia, Slobodan Milosevic, que seria futuramente acusado de crimes de guerra e contra a humanidade, com acusações de genocídio: “Sinisa, se todos os sérvios fossem como tu, haveria menos problemas nesta terra”.

Agressão: cuspiu no rival

O primeiro incidente de cuspida ocorreu durante a Copa do Mundo de 1998. Em resumo, quando a Iugoslávia enfrentou a Alemanha na fase de grupos, o alemão Jens Jeremies expressou sua indignação com o Mihajlović pela forma dura que jogava. Então, Miha que passou a cuspir em seu rosto.

O outro incidente foi em um jogo da Liga dos Campeões entre Chelsea e Lazio, quando o sérvio descarregou sua frustração com Adrian Mutu ao cuspir novamente. Nesta ocasião, uma longa suspensão de oito jogos foi sua punição da UEFA.

Siniša Mihajlović x Patrick Vieira: racismo x xenofobia

Já em 2000, jogando pela Lazio contra o Arsenal, passou a partida toda chamando o francês Patrick Vieira por nomes racistas como: “fucking black monkey” (que em português seria “macaco preto de m…”). Contudo, foi a público pedir desculpas, mas acabou por revelar que Vieira foi xenofóbico com ele, o chamou de “cigano de m…”.

Stuart Macfarlane

Siniša Mihajlović x Anne Frank

Já em 2017, quando treinava a Torino, Mihajlović comentou a polêmica dos torcedores da Lazio que exibiram bandeiras de Anne Frank – adolescente alemã de origem judaica, vítima do Holocausto, que se tornou uma das figuras mais discutidas da história após a divulgação póstuma do Diário de Anne Frank – com a camisa da rival, Roma.

Claramente, faziam uma provocação antissemita aos rivais, visto que, para muitos extremistas de direita na Itália o termo “judeu” é um ofensivo insulto. O treinador comentou, dizendo: “Anne Frank? Não sei quem era”.

Siniša Mihajlović machista

Há também episódios de machismo e o mais polêmico envolveu a mulher de um dos seus antigos jogadores de Milan. Na ocasião, Melissa Satta, namorada de Kevin Prince Boateng, disse numa entrevista após a saída do treinador que o ambiente tinha ficado mais tranquilo.

Mihajlović não se segurou e respondeu de forma machista: “Não sou sexista, mas não acho que as mulheres devam falar sobre futebol, elas não são adequadas para falar sobre isso”.