O técnico Cuca estreou no comando do Athletico – no último domingo (10) – com uma goleada por 6 a 0 sobre o Londrina, na Ligga Arena, pelas quartas de final do Campeonato Paranaense e fez um pronunciamento sobre a condenação por crime sexual contra menor e coação, anulada pelo Tribunal Regional de Berna-Mittelland, na Suíça, no começo deste ano.
Após responder perguntas dos jornalistas, Cuca leu o documento escrito por ele com a ajuda da esposa e das filhas. No pronunciamento, o treinador reconheceu erros no passado e afirmou que será uma voz ativa na luta contra violência à mulher.
Pronunciamento de Cuca
- Cuca produziu um documento em parceria com a esposa e filhas.
- Treinador pediu desculpas por erros do passado.
- Profissional do Athletico se comprometeu a luta pelo fim da violência contra mulheres.
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Cuca condenado na Suíça
O técnico Cuca, do Athletico, foi condenado na Suíça a 15 meses de prisão por ato sexual e coação contra uma menor de idade, em 1989, quando era jogador do Grêmio. O brasileiro nunca cumpriu a pena e viu o processo ser anulado no início de 2024.
Pronunciamento no Athletico
Após a estreia no comando do Athletico, o treinador leu um documento produzido em parceria com a esposa e as filhas.
No pronunciamento, Cuca pediu desculpas por erros do passado, se comprometeu a auxiliar na luta e ser uma voz ativa na luta contra violência à mulher, principalmente no meio do futebol.
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— Athletico Paranaense (@AthleticoPR) March 10, 2024
– Quero e me comprometo a fazer parte da transformação. Vou fazer isso com o poder da educação. Quero ajudar. Quero jogar luz, usar a voz que tenho para, ao mesmo tempo que me educo, educar também outros homens, principalmente os jovens que amam futebol.
Leia o pronunciamento de Cuca na íntegra
“Confesso para vocês que estou nervoso. É um tema muito sério, muito importante.
Escrevi para não correr o risco de errar, porque não sou bom com palavras, sou muito “boleirão". Queria falar sobre os últimos meses que eu tenho vivido. Há quase um ano eu saí do Corinthians e vocês podem imaginar o que estou passando e o quanto estou refletindo. Antes de falar, precisei escutar minha esposa, minhas filhas. Escrevi esse texto com a ajuda delas. Porque ainda não me sinto com conhecimento suficiente para falar sobre algo tão forte. Por elas e por todas eu escrevi e não quero errar.
Tenho escutado as opiniões e tentado entender o meu papel. No começo do ano li uma coluna da Milly Lacombe, da UOL, em que ela disse que isso não era sobre mim. Eu entendi o que ela quis dizer. Não é só sobre mim, mas é sobre mim também. Eu escolhi me recolher durante muito tempo, mas consegui seguir a minha vida, enquanto uma mulher que passa por qualquer tipo de violência não consegue seguir a vida dela sem permanecer machucada, carrega o impacto para sempre. Eu consegui seguir minha vida. O mundo do futebol e o mundo dos homens nunca tinha me cobrado nada, mas o mundo está mudando e eu acho que é para melhor.
Não adianta eu ser um grande treinador, esposo, pai, avô, irmão, se eu não entender que o mundo é mais do que o futebol e que eu faço parte dessas coisas. Eu enxergava os problemas, mas me calei porque a sociedade permitia que eu, como homem, me calasse. Hoje entendo que o silêncio soa como covardia. Tenho buscado ouvir mais, entender mais, aprender mais.
Não posso mudar o passado. Muitos homens agora me escutam e são capazes de olhar para o passado para rever suas atitudes. Sabemos que o mundo é um lugar diferente para os homens e mulheres, e quando enxergamos isso podemos até resistir, mas as coisas começam a mudar. Só que mudanças honestas e verdadeiras levam tempo, exigem dedicação, estudo, são dolorosas e desafiadoras.
A realidade tem que ser transformada para que o mundo seja um lugar mais seguro para as mulheres. O mundo do futebol ainda é um mundo de muito preconceito. Entendi que quando me cobram não é só sobre mim, é sobre a forma como tratamos as mulheres. Não estou falando isso como fala isolada para agradar alguém, ou da boca para fora. Se fosse assim teria me manifestado antes. Falo isso de coração.
Quero e me comprometo a fazer parte da transformação. Vou fazer isso com o poder da educação. Quero ajudar. Quero jogar luz, usar a voz que tenho para, ao mesmo tempo que me educo, educar também outros homens, principalmente os jovens que amam futebol. Sucesso repentino é desafio. Muitos se perdem pelo caminho com fama e dinheiro. Somos levados a acreditar que podemos tudo, inclusive desrespeitar as mulheres. Precisamos dar aos mais novos a oportunidade de não errarem como tantos de nós erramos. É ali que podemos nos sensibilizar, colocar para pensar, orientar. Sucesso, dinheiro e fama não servem para nada se você se perder no caminho.
Eu pensei que eu estava livre da minha angústia quando solucionei meu problema com a anulação do processo e a indenização. Mas entendi que não acabou porque não dependia apenas da decisão judicial, mas que eu precisava entender o que a sociedade esperava de mim. O que vocês vão ver de mim daqui para frente não serão palavras, serão atitudes. Mas obrigada por me ouvirem hoje".
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