Convocação de Daniel Alves para o Qatar teve mais repercussão que acusação de estupro do jogador

Internautas cobram, inclusive, posicionamento de nomes relacionados ao esporte sobre o caso
Publicado em 26/01/2023 às 01h49

Na última sexta-feira (20), o lateral Daniel Alves foi preso na Espanha, acusado de estuprar uma jovem espanhola de 23 anos numa boate em Barcelona, em dezembro de 2022. A prisão preventiva foi decretada pelo risco de fuga do atleta, além do depoimento e das provas apresentadas pela vítima. A detenção do atleta é infiançável.

A jovem teria se recusado a receber indenização, além evitar se expor. Com exames realizados logo após o suposto crime, a vítima fez a denúncia junto às autoridades locais. Por outro lado, o depoimento do brasileiro teve algumas contradições. Apesar da gravidade do crime, o assunto não parece ter repercutido como a convocação do jogador de 39 anos para a Copa do Mundo do Qatar, em 2022.

 

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Nomes do futebol não se manifestaram sobre a denúncia

No dia 7 de novembro de 2022, quando o então técnico da seleção brasileira, Tite, anunciou os nomes que disputariam a Copa do Mundo, a reação de diversos torcedores e até comentaristas de futebol foi negativa. Até as disputas do Brasil durante o torneio, a ida do lateral ao Mundial era uma má ideia para boa parte das pessoas que acompanhavam o torneio. O assunto ganhou grande destaque na imprensa esportiva.

De acordo com a jornalista esportiva Renata Mendonça, a repercussão e a maneira de debater a denúncia, que segundo ela, está sendo menor que a convocação do jogador, poderia ser mais forte.

“Eu acho que na época que o Daniel foi convocado para a Copa do Mundo, a gente viu muitas opiniões, muitas revoltas, seja de torcedores, seja da imprensa esportiva. Muita gente achando absurda a convocação, e tudo bem, era uma questão ali que poderia ser debatida. Eu acho que a gente tem debatido pouco, muito menos do que a gente debateu a convocação, uma denúncia tão grave. E o fato de denúncias graves de violência contra a mulher envolvendo jogadores de futebol, elas são muito recorrentes. Acho que nos últimos dois, três anos, a gente tem visto mais até", ressalta a jornalista, no Redação SporTV.

Já sobre o suposto crime de violência sexual, que teria sido cometido pelo atleta brasileiro no final do ano passado, os comentários negativos não ganharam tanto espaço na mídia. Internautas passaram a cobrar comentaristas de futebol e até jogadores, que há pouco tempo, estavam expondo suas opiniões a respeito de atletas e ex-atletas da modalidade no Brasil.

Um dos alvos recentes, foi Walter Casagrande, que inclusive, chegou a falar sobre o assunto envolvendo Alves em sua coluna no UOL. O comentarista é constantemente alvo de piadas e falas vindas de grandes nomes do futebol, além de torcedores, por expor suas opiniões.

No Twitter, diversos internautas demonstram indignação pela ausência de posicionamento dos jogadores e ex-jogadores. O silêncio do técnico Tite, que defendeu o lateral durante a Copa do Mundo, afirmando que Daniel Alves “transcende o futebol", também gerou revolta na internet.

Outros casos envolvendo jogadores, como o de Robinho, que foi condenado em última instância na Itália por estupro, também fizeram parte da conversa dos últimos dias, assim como diversos episódios criminais contra mulheres envolvendo atletas brasileiros. Isso porque, devido a cultura machista e misógina no futebol, os supostos agressores muitas vezes acabam impunes, com as vítimas silenciadas e tendo suas palavras desvalorizadas, ainda mais por serem vistas como pessoas que querem apenas “fama e dinheiro".

 

Teria sido a naturalização de crimes contra as mulheres tão naturalizados, que sequer passam a ter destaque na imprensa, ainda que envolva nomes famosos pelo mundo? Na Espanha, o caso ocupou a primeira página dos veículos, o que rendeu elogios por ter dado destaque ao ocorrido, enquanto no Brasil e em demais veículos pelo mundo, o caso ocupou pouco espaço.

“São feridas que talvez a gente não queira tocar, porque a imprensa esportiva ainda é formada majoritariamente por homens. […] Eu acho que para os próprios homens é desconfortável, porque eles mesmos têm que revisitar situações em que eles também reproduziram comportamentos abusivos. Eu acho que enquanto a gente não falar sobre isso, a gente não muda essa cultura", completa Renata Mendonça.

Daniel Alves aguarda o julgamento do caso, que ainda não tem data marcada, em prisão preventiva. A defesa do atleta pode entrar com recurso até esta quinta-feira (26). Caso seja condenado, o jogador poderá pegar uma pena de até 12 anos.


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Jornalista formada pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), iniciando a trajetória no jornalismo esportivo no Sambafoot. Já atuei em diversas editorias, mas minha...