A seleção brasileira feminina de futebol estreia nas Olimpíadas nesta quinta-feira (25) encarando a Nigéria. O torcedor brasileiro não tem boas recordações ao enfrentar o selecionado africano.
Tá que não foram as meninas que fizeram esse vexame. Em 1996, a seleção masculina caiu diante da Nigéria em um jogo que estava praticamente decisivo, dando adeus ao então sonho do ouro olímpico.
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Brasil caiu para Nigéria em um dos maiores vexames da história
A classificação parecia garantida, e o clima era de festa e expectativa para um aguardado duelo entre Brasil e Argentina na final masculina do futebol na Olimpíada de 1996, em Atlanta.
Com uma geração de jogadores que haviam defendido diversas vezes a amarelinha, como Dida, Aldair, Roberto Carlos, Rivaldo, Bebeto e Ronaldo (à época chamado de Ronaldinho), o time de Zagallo vencia a Nigéria por 3 a 1, aos 33 minutos do segundo tempo.
Até que, em apenas 12 minutos, a seleção africana conseguiu, de maneira inacreditável, empatar o jogo, levando-o para a prorrogação. A vaga, que parecia garantida, agora seria decidida no temido gol de ouro.
E foi o atacante Kanu, o mesmo que empatara o confronto aos 45 minutos da etapa final, o responsável por frustrar, mais uma vez, o sonho do inédito ouro olímpico do Brasil no futebol.
Aquele 31 de julho ficaria marcado como um dos maiores vexames da História do futebol brasileiro numa Olimpíada.
Prorrogação dramática
Aos quatro minutos da prorrogação, o centroavante nigeriano passou facilmente pela zaga brasileira, criticada ao longo de toda a competição, e bateu cruzado no canto esquerdo de Dida. A manchete do GLOBO no dia 1º de agosto resumia a frustração nacional.
"Brasil entrega o jogo e dá adeus ao ouro no futebol". Na reportagem do caderno Esportes, a crítica era em relação à postura defensiva da seleção na etapa final: "Covardia tira o Brasil do inédito ouro olímpico".
Daquela equipe, somente Ronaldo, autor das principais jogadas do Brasil na partida, e o volante Flávio Conceição, que marcou dois dos três gols brasileiros, foram poupados.
Dida, apesar de ter defendido um pênalti, falhou em diversas reposições de bola. Rivaldo, contestado ao longo de todo o torneio, foi criticado pela apatia em campo. Roberto Carlos, pelo gol contra que fez, o primeiro da Nigéria no jogo; Aldair, por seu nervosismo; e Bebeto, tetracampeão mundial e atleta mais experiente da equipe, com 32 anos, por não ter sido o líder que se esperava para os jogadores mais jovens.
“O time estava muito abalado por ter sofrido o terceiro gol no último minuto. Senti que seria difícil ele reagir", disse Zagallo, abatido com o resultado, ao final do jogo.
Brasil desperdiçou chances
Apesar das críticas aos medalhões do time e de algumas chances desperdiçadas para matar o jogo contra a Nigéria, a maior reprovação ao longo de toda a competição recaiu sobre o sistema defensivo.
Desde a derrota por 1 a 0 contra o Japão, na estreia do torneio, até a vitória por 4 a 2 sobre Gana, nas quartas de final, foram diversos os momentos em que o time demonstrou fragilidade no setor, o que levou Zagallo a sacar Rivaldo para colocar o volante Amaral, com a missão de dar mais proteção à zaga. A medida se mostrou ineficaz, e o Velho Lobo também não foi poupado.
"Pelo futebol de Ronaldinho e a luta de Flávio Conceição, a derrota do Brasil, por 4 a 3, para a Nigéria, na prorrogação, depois de um empate em 3 a 3 no tempo normal, poderia parecer injusta. Mas seria injusta a vitória de uma equipe mais bem armada, que chegou a estar perdendo por 3 a 1 de um time covarde, recheado de cabeças-de-área? Não, pois com organização tática e preparo físico chegou à virada histórica", dizia a reportagem do GLOBO.
Apesar de uma geração repleta de talentos, a falta de organização tática do Brasil ao longo dos Jogos dava sinais de que, em algum momento, o time poderia ser surpreendido.
Campanha nos Jogos de Atlanta
Na primeira fase, a derrota para o Japão na estreia acendeu o alerta do time, criticado pela apatia e desorganização em campo diante de um adversário frágil, sem grande experiência em competições internacionais.
A vitória contra a Hungria, por 3 a 1, mostrou uma melhora da equipe, apesar de Dida e Aldair, que haviam falhado no duelo com os japoneses, terem repetido o erro contra os húngaros.
No jogo que decidiu a classificação, o Brasil enfrentou a mesma Nigéria que seria seu algoz na semifinal, mas, diferentemente do que ocorreria na eliminação, a defesa mostrou-se segura na vitória por 1 a 0.
O duelo das quartas de final contra Gana foi marcado novamente pela insegurança da defesa e a força do ataque brasileiro. Após abrir o placar com um gol contra de Duodu, a seleção sofreu o empate aos 23 de minutos de jogo e chegou a ficar atrás no placar aos oito do segundo tempo, quando Aboagye virou para os ganeses.
O time de Zagallo reagiu rápido, e virou o jogo com dois gols de Ronaldo, aos 11 e 17 minutos da etapa complementar. Bebeto fechou o placar e garantiu o Brasil na semifinal. A má atuação, no entanto, já alardeava que o Brasil precisaria ser mais cuidadoso no duelo contra a Nigéria na semifinal, e enaltecia a importância de Ronaldo para a seleção nos momentos decisivos.
"Foi uma feliz combinação de raros momentos de talento e de muita sorte. Talvez a tão decantada sorte pelo técnico Zagallo, que ainda não conseguiu dar padrão tático ao time e sequer segurança à defesa, além de organização", dizia um trecho da reportagem do GLOBO em 29 de julho de 1996.
No duelo contra a Nigéria, que contava com vários talentos de uma mesma geração, como Babayaro, West, Okocha, Ikpeba, Bagangida e Kanu, as falhas apresentadas ao longo de todo o torneio custariam a eliminação da equipe.
Goleada na disputa do bronze
Apesar do clima de decepção após a derrota, o Brasil fez sua melhor atuação na despedida do torneio, ao vencer Portugal por 5 a 0, na disputa pelo terceiro lugar. Com um gol de Ronaldo, um de Flávio Conceição e três de Bebeto, o time apresentou seu melhor futebol tardiamente, e nem mesmo a goleada tirou o amargo gosto do bronze de um time que chegou à Atlanta cercado de expectativas, mas se despediu com uma goleada melancólica, incapaz de apagar a traumática eliminação para os nigerianos na semifinal.
Na disputa pelo ouro, o time de Okocha, Kanu e companhia aprontou novamente e venceu a Argentina também de virada, por 3 a 2. Desta vez, o gol que garantiu o título não veio na prorrogação, mas aos 45 minutos do segundo tempo, com Amunike. Para alguns brasileiros, só restou comemorar a derrota dos “hermanos" na decisão.