As Olímpiadas de Tóquio chegaram ao fim e trouxeram um saldo extremamente positivo para o Brasil, que teve sua melhor passagem pelos jogos, ficando no 12º lugar, uma posição acima da conquistada nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.
No total foram 21 medalhas, sendo elas 7 de ouro, 6 de prata e 8 de bronze, com destaque para modalidades que fizeram suas estreias em Tóquio, como o skate e o surfe.
Infelizmente, quem acabou batendo na trave mais uma vez foi a excelente Seleção de Futebol Feminino, que apesar de contar com o é que considerada a equipe mais forte a já entrar em campo, não conseguiu bater a Seleção do Canadá nas quartas de final, em disputa de pênaltis.
Com isso, jogadoras extremamente importantes como Marta e Formiga, cujas carreiras já estão perto do fim, acabaram sendo frustradas no sonho de conquistar a medalha de ouro nas Olímpiadas de Tóquio.
Após a derrota, Marta deu uma entrevista ao sair de campo: “O futebol feminino não acaba aqui”.
Ela não poderia estar mais certa, e esse é um bom momento para refletir sobre porque o futebol feminino no Brasil, mesmo diante de tantas conquistas importantes, ainda sofre com a falta de investimento, patrocínios e visibilidade.
Um dos principais motivos pode ser encontrado no passado, já que por muito tempo a prática do esporte pelas mulheres foi proibida por lei no país!
Não conhece essa história? Então, acompanhe esse artigo completo que o Sambafoot preparou para você com a história da proibição do futebol feminino no Brasil.
O Decreto-Lei que proibiu o futebol feminino no Brasil
O Brasil sempre foi celebrado como o “País do Futebol”, mas é impossível fechar os olhos para uma longa história de lutas sociais que acabam se refletindo também dentro de campo, como a igualdade de gênero e o racismo.
Essas são lutas que vivenciamos ainda nos dias de hoje, então você pode imaginar que a situação era muito pior décadas atrás, quando o país era dominado por uma forte onda de conservadorismo, e porque não dizer, de um machismo típico de sua época.
Para piorar a situação, também é preciso lembrar que passamos por um longo período de Ditadura Militar no país, que dentre outras coisas, prejudicou o caminho de profissionalização do futebol feminino.
Foi assim que em 14 de abril de 1941, o então presidente Getúlio Vargas baixou o Decreto-Lei 3.199, cerceando a participação de mulheres em algumas práticas esportivas, incluindo o futebol.
Anos depois em 1965, já durante o período de Ditadura Militar, o Conselho Nacional de Desportos (CND) foi o responsável por finalmente esclarecer quais esportes eram vetados para as mulheres: futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo-aquático, rugby, halterofilismo e beisebol lutas de qualquer natureza.
Existem vários motivos para essa proibição, mas no cerne de todas elas estão o machismo, já que na época era grande a preocupação de que esses esportes tirariam a beleza e a graça da mulher.
Outra preocupação de parte da sociedade da época era que esses “esportes masculinos” poderiam trazer danos físicos as mulheres, principalmente no tocante a sua função social de gerar os novos filhos da nação.
Nessa mistura também havia o conservadorismo, já que para muitos o futebol era considerado um anto de perdição e de excessos que poderiam ter um impacto negativo sobre as mulheres.
Veja abaixo uma declaração da época, que chegou aos jornais na forma de uma carta aberta ao presidente Getúlio Vargas, escrita por José Fuzeira:
“Refiro-me, Sr. Presidente, ao movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças, atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem se levar em conta que a mulher não poderá praticar esse esporte violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio psicológico das funções orgânicas, devido à natureza que a dispôs a “ser mãe”. (…) dentro de um ano é provável que em todo o Brasil estejam organizados uns 200 clubes femininos de futebol, ou seja, 200 núcleos destroçadores da saúde de 2200 futuras mães que, além do mais, ficarão presas de uma mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos rudes e extravagantes…”.
Do ponto de vista histórico, essa carta aberta publicada no Diário da Noite em 7 de maio de 1940, ajuda ilustrar não só a mentalidade de parte da sociedade da época.
Através das palavras do interlocutor, também é possível notar a força e o nível de organização que já existia ainda em 1940, e que poderia ter garantido décadas para o desenvolvimento do futebol e de outros esportes no Brasil.
O fim da proibição e o crescimento do esporte
A proibição estabelecida pelo Decreto-Lei só foi derrubada em 1979, e mesmo assim isso não foi o suficiente para criar um cenário favorável para o futebol feminino no Brasil.
A Seleção Brasileira, por exemplo, só foi organizada oficialmente em 1988, quase uma década depois da queda da proibição.
A data coincide com o primeiro Torneio Internacional de Futebol Feminino em 1988, organizado pela FIFA e disputado em Guangdong, na China.
Nessa ocasião, o futebol feminino brasileiro já mostrou a sua força, terminando em terceiro lugar da competição e mostrando que mesmo depois de anos de proibição, as atletas brasileiras já mostravam sua força.
Desde então, mesmo com o fim da proibição que atrasou a modalidade por décadas no país, as mulheres ainda lutam por maior reconhecimento, melhores chances para obter patrocínios e ocupar uma posição de destaque no cenário nacional e internacional de futebol.
O auge do futebol feminino no Brasil
Apesar de todas as dificuldades, o futebol feminino no Brasil começou a se desenvolver na década de 80.
Isso aconteceu principalmente através de times como o Esporte Clube Radar e o então presidente Eurico Lira, que foi um dos pioneiros a incentivar a modalidade após a queda da proibição no país.
Foi por lá que passaram estrelas como Mariléia dos Santos, que ficou mais conhecida como Michael Jackson e a primeira a ser considerada a “Pelé” do futebol feminino, bem antes de Marta e companhia e com mais de 800 gols marcados ao longo de sua carreira.
Ela também foi uma das estrelas da Seleção Brasileira de Futebol Feminino que participou das Olímpiadas de Atlanta em 1996, a primeira a incluir a modalidade nos jogos.
Ela ajudou a abrir caminho para grandes jogadoras como Formiga, que é a única jogadora a estar presente em todas as Olímpiadas (desde a inclusão dos jogos em 1996), e também é recordista em participações e títulos na Copa do Mundo de Futebol Feminino.
Também não há como dissociar o futebol feminino no Brasil de nossa grande estrela, a camisa 10 que dispensa apresentações.
Marta esteve presente nos principais títulos da Seleção Brasileira, sendo a maior artilheira das Copas do Mundo, tanto entre os homens quanto as mulheres, com 17 gols marcados.
Eleita como melhor jogadora do mundo por seis vezes, essa é uma marca que dificilmente será superada e mais uma prova de que mesmo com pouco investimento, o futebol feminino não só já provou sua competência como o enorme potencial para o futuro.
Em poucos anos, também é possível lembrar de outras grandes jogadoras como Andressa Alves, Tamires, Cristiane, Debinha, Andressinha e várias outras que fazem sucesso nos campos do Brasil e do mundo.
Muitas dessas estrelas você pode acompanhar no Brasileirão Feminino Neoenergia, que reúne os principais times do país e volta no dia 14 de agosto para a fase das Quartas de Final.
Nessa fase você pode acompanhar confrontos de Grêmio x Palmeiras, Ferroviária x Santos, Kindermann-Avaí x Corinthians e Internacional x Santos em partidas de ida e volta.
Para mais informações do Brasileirão Feminino e curiosidades do mundo do futebol, fique de olho nas notícias do Sambafoot!