Em 30 de abril de 1912 nasceu o América Futebol Clube de Belo Horizonte – MG. Dos Américas brasileiros, o único a não usar o vermelho, já que seu nome se deu por meio de sorteio, e não por inspirado no homônimo carioca. Defende o verde, o branco e o preto.
O tricolor das alterosas que se tornou imbatível e conquistou o Deca-campeonato mineiro, de 1916 a 1925, tem em sua nobre história passagens de suma importância para o futebol mineiro e nacional.
Tido sempre celeiro de grandes jogadores, como Fred (Lyon), Wagner, Tostão (campeão na Copa do Mundo de 1970), Éder Aleixo, Palhinha, Euller, Gilberto Silva e Evanilson (todos com passagem pela Seleção Brasileira) o clube hoje vivencia o período mais triste de sua história. Próximo de completar 95 anos, o Coelhão acaba de ser rebeixado para o módulo II do Campeonato Mineiro.
Talvez por ter se endividado e hoje contar com uma estrutura defasada, ao contrário do que existia a 10 anos atrás. Talvez por ter negociado grandes revelações a preço de banana. Talvez por se esquecer de suas origens, sua vocação para criar talentos e contratar uma legião estrangeira para defender seu pavilhão.
Seja qual for a razão, quem mais sofre é a sua torcida. Nem tão pequena quanto pensam nossos rivais e nem tão grande quanto gostaríamos que fosse. Mas inextinguivelmente fiel.
Para ilustrar este torcedor americano, trago a vocês uma texto de Roberto Drummond, escritor e torcedor atleticano que registrou em 1977 o que é este verde amor americano.
“Estado de Minas, Domingo, 30 de Outubro de 1977.
Roberto DRUMMOND
Verde Amor Americano!
Quero fazer um comício sobre você para 110 milhões de brasileiros, quero dizer aos meus irmãos do Oiapoque ao Chuí que eu nunca vi amor assim como você, verde amor americano!
Você que nunca morre. Você que não finge de morto. Você que não tem medo de ser você. Você que não cede. Você que vai seguindo, indiferente a tudo.
Você que ninguém obriga a ficar de joelhos. Você que ninguém manda abaixar a cabeça. Você que não abaixa os olhos. Você que segue olhando de frente.
Você que cresce a cada manhã. Você que nunca diminui de tamanho. Você que não tenta estrangular você mesmo. Você que não tenta matar você mesmo.
Verde amor americano!
Quero fazer uma bandeira com você e pendurar num auri-verde pendão para a brisa
do Brasil ficar beijando e balançando e espalhando no vento a sua certeza, porque eu nunca vi um amor como você, verde amor americano!
Falam com você que você não deve amar o América, que é um amor tão difícil, tão cheio de espinhos, de cacos de vidro, de brasas para queimar, falam com você que deve haver algum amor mais tranqüilo, amor com gosto de sorvete de morango, amor branco e preto, amor azul, falam com você para você escolher um outro amor, porque há muitos amores para você escolher no Brasil, que é um país que é um mundo, falam com você no tanto que você pode ser feliz escolhendo outro amor, mas você, verde amor americano, fiel a você mesmo, vivendo do passado, se preciso, recordando um deca campeonato tão distante, agarrando-se em alegrias finas como um fio de cabelo de mulher, mas você caminha, verde amor americano.
Você caminha como um rio.
Caminha em curvas, caminha em remansos, caminha na água que parece parada, caminha voltando, caminha em correnteza, e eu já vi você cantar nas cascatas, verde amor americano! Você nunca perde a certeza de chegar no mar. Verde amor americano!
Quero fazer uma canção com você para 110 milhões de brasileiros ouvirem e sentirem que não há, neste mundo não há, nenhum amor como você, verde amor americano!
Quero por você cantando em 110 milhões de bocas. Quero por você amando em 110 milhões de bocas.
Quero por você dando a 110 milhões de brasileiros a firmeza, que é a sua firmeza, verde amor americano, para os 110 milhões de brasileiros nunca estrangularem o amor que sentirem, para que os 110 milhões de brasileiros mudem de roupa, mudem de cidade, mudem de partido político, mudem de cor de cabelo, mudem de casa, mudem mesmo do Brasil, mas que nunca mudem de amor, que nunca capitulem no amor, porque a sua lição, verde amor americano, é uma lição realista: mais vale ser infeliz com o amor que a gente ama do que ser feliz com o amor que a gente não ama, se é que alguém possa ser feliz com o amor que não ama, e nunca amará, porque há decreto-lei para o coração, verde amor americano!”