Zagallo completa 74 anos nesta terça-feira

O futebol, que trouxe a consagração e o reconhecimento alcançado por poucos na carreira, entrou por acaso na vida de Mário Jorge Lobo Zagallo. Bicampeão do mundo pela Seleção Brasileira como jogador, em 1958/1962, treinador tricampeão do mundo, em 1970, tetracampeão do mundo como coordenador técnico, em 1994, recordista com seis participações em Copas do […]
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sambafoot_admin
Publicado em 09/08/2005 às 14h22

O futebol, que trouxe a consagração e o reconhecimento alcançado por poucos na carreira, entrou por acaso na vida de Mário Jorge Lobo Zagallo. Bicampeão do mundo pela Seleção Brasileira como jogador, em 1958/1962, treinador tricampeão do mundo, em 1970, tetracampeão do mundo como coordenador técnico, em 1994, recordista com seis participações em Copas do Mundo, ele chega aos 74 anos que completa nesta terça-feira prestes a disputar o seu sétimo Mundial, no ano que vem, na Alemanha.

Um currículo vitorioso que no final dos anos 40 um então jovem morador da Rua Professor Gabizzo, n° 6, na Tijuca, no Rio de Janeiro, jamais sonhou que teria – tudo o que Zagallo almejava na época era ser piloto de avião, projeto que logo teve de abandonar por conta do astigmatismo. Foi então estudar Contabilidade, com o objetivo de trabalhar com o pai, Aroldo, representante de uma firma comercial. Nessa época, pagava para jogar futebol, como ele diz, sócio do América que era, cuja sede ficava a poucas quadras da sua casa.

– Meu pai não queria que eu fosse jogador, não deixava. Naquela época, era uma profissão mal vista, a sociedade não aceitava bem. Então, eu jamais imaginei que iria conseguir tudo isso, jamais pensei que seria jogador. Por isso digo que o futebol entrou na minha vida por acaso – conta.

O único irmão, Fernando Henrique, mais velho e já falecido, deu a sua contribuição ao acaso. Convencido de que Zagallo tinha futuro no futebol, insistiu com o pai e fez com que Aroldo mudasse de idéia. Zagallo passou a jogar pelo juvenil do América, como meia-esquerda, o camisa 10. Foi quando teve a primeira intuição das tantas que distinguem os predestinados a serem vitoriosos – trocou de posição.

– Vi que jogando como camisa 10 dificilmente chegaria à Seleção Brasileira, pois o que mais havia eram craques nessa posição. Então troquei a meia pela ponta-esquerda.

Trocou de posição, mas não mudou a característica, de jogador habilidoso e driblador. Já no juvenil do Flamengo, para onde se transferiu em 1950, encontrou no paraguaio Fleitas Solich, mais do que um admirador do seu futebol, o treinador que primeiro o orientou para corrigir defeitos.

– O Solich achava que eu driblava muito, o que era verdade. Então, nos treinos, quando eu dava dois dribles, ele marcava falta contra. Tanto apitou falta que eu corrigi o vício de driblar.

Ainda como juvenil do Flamengo, Zagallo teve a iniciativa de se transformar no primeiro jogador do futebol brasileiro a obter direitos no seu passe. Para assinar o primeiro contrato, em 1951, exigiu o passe livre ao final – ludibriado pelos dirigentes, como conta, não pôde fazê-lo nos termos que desejava. Em 1952, na renovação, fez prevalecer a cláusula que poderia transferir-se para outro clube mediante o pagamento de 30 mil cruzeiros – conseguiu, não sem antes ter de ameçar abandonar o futebol.

– No primeiro contrato, eles me enganaram, disseram que a lei não permitia fixar o pagamento no final para ter direito de me transferir. Veio a renovação e não quiseram aceitar, de novo. Então, agradeci e fui para casa, resolvido a não jogar mais futebol. Aí eles foram me buscar e assinei o contrato com direito a sair no final.

Zagallo não fez valer a cláusula de imediato. Renovou sucessivos contratos e ficou no Flamengo até 1958. Aí, além da intuição, entrou em cena outro fator que o acompanha até hoje na carreira, como ele reconhece: a sorte. Zagallo conta o que aconteceu.

– A final da Copa do Mundo da Suécia foi no dia 29 de junho de 1958 e o meu contrato se encerrava no outro dia. Antes de viajar para a Suécia, o Palmeiras e a Portuguesa, de São Paulo, me procuraram com ofertas excelentes. Podia ter me apalavrado, mas a minha formação não permitiu, pois era ainda contratado do Flamengo. Preferi também arriscar, esperar o final da Copa.

Esperou, e com sucesso. O Brasil conquistou seu primeiro título mundial com Zagallo como titular absoluto – jogou as seis partidas. Voltou mais valorizado da Suécia e as propostas aumentaram.

– O Palmeiras queria me dar 5 milhões. Mas a minha mulher era professora e não queria sair do Rio. Então fui para o Botafogo, que me ofereceu 3 milhões.

Zagallo pagou 100 mil ao Flamengo e foi embora da Gávea. Teve antes que vencer a resistência dos dirigentes do Flamengo, que apelaram para que ficasse no clube.

– O Solich e o Fadel Fadel (veio a ser presidente nos anos 60) foram à minha casa pedir para eu não sair do Flamengo. Repondi que ficaria, desde que eles me pagassem os mesmos 3 milhões que o Botafogo oferecia.

Não houve acordo. E, sim, um pedido, feito por Fleitas Solich.

– Ele pediu que, já que eu não ia ficar, pelo menos fosse para o Palmeiras, pois a torcida gostava muito de mim e não ia querer me ver com a camisa do Botafogo enfrentando o Flamengo.

Zagallo foi mesmo para o clube da Rua General Severiano e prosseguiu a carreira marcada por conquista de títulos que o fez bicampeão mundial pela Seleção Brasileira. O que ele não imaginava também que fosse acontecer.

– Já estava até perdendo a esperança de ser convocado. Tinha sido tricampeão pelo Flamengo, em 1955, mas nada de ser chamado. Quem me convocou pela primeira vez foi o Vicente Feola, em 1958, no ano da Copa, eu já tinha 27 anos.

Para chegar à Seleção, Zagallo outra vez se antecipou, fez uso novamente da seu instinto. Como tinha preparo físico privilegiado, começou a recuar pelo lado esquerdo para ajudar na marcação e auxiliar o lateral-esquerdo. Recuperada a bola, se transformava em ponteiro ofensivo, de efetuar cruzamentos e ainda marcar gols. Com isso, chamou a atenção de Vicente Feola, o técnico campeão do mundo em 1958.

– A Seleção tinha o Pepe, que fazia muitos gols, e o Canhoteiro, ídolo do São Paulo e considerado o Garrincha da ponta-esquerda. Então, para conseguir disputar a Copa, tinha de fazer alguma coisa diferente. O Feola gostou do meu estilo e passei a jogar recuado também na Seleção. Deu tudo certo, fomos campeões.

Depois, já no Botafogo, onde colecionou títulos como jogador, foi sentindo que precisava outra vez se antecipar, preparar o terreno para o futuro imediato, como técnico – a carreira, dentro dos gramados, estava a ponto de se encerrar, o que aconteceu de fato em 1965.

– Como jogador, eu tinha a preocupação de estudar os times adversários. Ia assistir aos jogos, principalmente para ver como os laterais-direitos, que eram os meus marcadores, se comportavam, quais eram os eus pontos fracos e as suas virtudes. Ali, sem saber, já me exercitava, dava os primeiros passos e ia tomando gosto em ser treinador.

Em 1966, chuteiras já penduradas, foi ser treinador do juvenil do Botafogo. De cara, foi vice-campeão estadual. No ano seguinte, campeão no juvenil e nos profissionais, para onde acabara de ser promovido. Em 1968, bicampeão carioca e da Taça Guanabara, iniciando a coleção de títulos que prosseguiu no Fluminense, em 1971, no Flamengo, em 1972, até se tranferir para o futebol árabe, pela primeira vez, em 1975, onde ficou sete anos e meio.

Voltou no final dos anos 80 e classificou de maneira invicta a Seleção dos Emirados Árabes para a Copa do Mundo da Itália, em 1990 – um desentendimento contratual com os dirigentes não deixou que ele disputasse mais uma Copa do Mundo.

– Acabou indo o Parreira, que tinha dirigido a Arábia Saudita nas Eliminatórias – conta Zagallo.

Quatro anos depois, em 1994, veio o tetracampeonato do mundo como coordenador técnico. Em 1998, na França, a frustração do vice-campeonato, naquele que foi o seu sexto Mundial, em que bateu a marca do goleiro mexicano Carbajal, o único disputar cinco Copas consecutivas.

– Como eu já disse antes, nunca pensei que pudesse chegar até aqui com uma carreira tão vitoriosa. Isso só pode me dar orgulho, ainda mais na minha idade, são poucos os que conseguiram – diz, para completar.

– E, já que cheguei, quero disputar a minha sétima Copa. No jogo contra o Chile, dia 4 de setembro, volto à Seleção.

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