O Botafogo viveu nessa terça-feira uma tarde marcada pela emoção. Nilton Santos, de 79 anos, um dos maiores craques da história, esteve em General Severiano durante o treinamento e foi convidado por PC Gusmão para fazer parte da comissão técnica, na função de consultor. A Enciclopédia do Futebol deve aceitar a nova missão nos próximos dias, e retornar ao clube que defendeu por 17 anos, de 1948 a 1964.
Quando o treino acabou, o ex-craque se dirigiu ao centro do gramado e foi aplaudido por todos os jogadores, comissão técnica, dirigentes e torcedores presentes no clube. E deu como praticamente certa a sua volta ao Glorioso.
“Contem comigo, mas vou consultar primeiro a minha mulher, pois a gente sempre troca idéias sobre assuntos importantes. O Botafogo foi minha casa por 17 anos e não me arrependo de nada. Faria tudo novamente. Ganhei 26 títulos na carreira e nunca perdi uma decisão”, disse ele, que em 2003 trocou Brasília pelo Rio de Janeiro.
O futebol mudou, mas, segundo Nilton Santos, a importância do preparo psicológico dos jogadores continua a mesma. Uma preocupação antes de aceitar a nova função é se certificar de que os atletas se sentirão à vontade na presença de um mito.
“Eu não quero inibir ninguém, apenas somar, pois sempre tive espírito de grupo. Quando era jogador, ia para frente do espelho e conversava comigo mesmo. Me condicionava para ser vitorioso e posso trabalhar isto com eles, até individualmente”, afirmou, como se já tivesse aceitado o convite. “Se fui bom foi lá dentro de campo. Fora, não sei”.
Sobre o time atual, Nilton Santos não tem muitas informações, mas ficou satisfeito com as duas vitórias seguidas no Campeonato Brasileiro: “Estou voando. Botafogo melhorou um pouco, mas precisa de muito mais. Não vi os jogos, ganhando está bom. Como estou longe, prefiro não dar palpite”.
O tempo em que o Botafogo era o celeiro da Seleção Brasileira está na memória da Enciclopédia do Futebol, que lamenta o êxodo de jogadores para outros países. Para ele, uma alternativa para suavizar o problema está na formação de novos atletas:
“Éramos cinco na Seleção Brasileira e hoje em dia não tem jogador do Botafogo nem na reserva. Me lembro que na época do Neca a escolinha formava craques como Jairzinho, Paulo César, Rogério e outros”.
A presença de Nilton Santos participando ativamente do dia-a-dia do Botafogo é um antigo desejo do presidente Bebeto de Freitas. “Na galeria dos nossos grandes ídolos, foi o único que começou e terminou a carreira no Botafogo”, lembrou o dirigente.
Depois que o ex-craque foi apresentado ao elenco e discursou, o técnico PC Gusmão, com os olhos marejados, disparou: “É um momento nobre da minha vida. Este que está do meu lado é o nosso novo mestre e consultor”. E para qualquer torcedor brasileiro, um ídolo eterno.