Independentemente da que fizer na partida contra o Uruguai, o atacante Ricardo Oliveira pode se considerar um vencedor. Na carreira e na vida. Nascido em São Paulo, órfão de pai aos oito anos, morava no bairro de periferia do Carandiru. Com cinco irmãos, de família pobre, Ricardo Oliveira chegou a desistir do futebol em vários momentos, nos três anos que passou no Corinthians sem ser aproveitado. Com 18 anos, vendo que não teria futuro na carreira, largou o futebol e foi trabalhar para ajudar a família.
– Fui ajudante de pedreiro, lavei carro, fui trabalhar para ajudar no sustento da família. Tinha passado no teste do Corinthians, mas fiquei três anos sem jogar, o que só consegui em 1999, nos aspirantes. Foi uma época muito difícil, cheguei a pensar que não ia realizar o sonho de ser jogador de futebol – conta o atacante.
A vida dura de Ricardo Oliveira faz parte de um passado que o atacante faz questão de contar. Acha que pode servir de exemplo para muito garoto que está começando no futebol ou mesmo para jogadores que, assim como ele, são convocados para a Seleção Brasileira e têm pouca chance de jogar – com 10 convocações ele só começou jogando uma partida, no amistoso em Hong Kong, e agora vai enfrentar o Uruguai.
– No futebol tem espaço para todo mundo. Até mesmo aqui na Seleção, que está cheia de craques e a concorrência é muito grande. Tem que saber esperar, a vez da gente sempre chega – diz.
Ele soube e fez por onde conquistar seu espaço na Seleção Brasileira. Convocado pela primeira vez por Zagallo, para um amistoso que marcou a despedida do vitorioso treinador na carreira, Ricardo Oliveira participou de 170 minutos em cinco jogos e marcou quatro gols – dois no amistoso em que foi titular na goleada de 7 a 1 em Hong Kong. Foi neste jogo que começou a conquistar a admiração de Parreira pelo seu futebol.
– Por isso eu digo que no futebol tem espaço para todo mundo e a hora sempre chega. Naquele amistoso, o Ronaldo não foi, o Adriano também, e acabei jogando. Acho que aproveitei bem a oportunidade – diz.
Tanto aproveitou que Parreira passou a cogitar desde então o aproveitamento de Ricardo no time. Adriano se contundiu, não pôde se apresentar para os jogos contra o Peru e Uruguai, e o treinador escalou contra os peruanos a formação tática que tinha dado certo contra Hong Kong, com Juninho Pernambucando no meio-campo. Contra o Uruguai, o Parreira não quis esperar mais – vai utilizar o atacante.
– Além de ter entrado sempre bem quando foi lançado, ele está atravessando um grande momento. Estava pensando nessa opção, com dois atacantes na frente, e por isso escalei o Ricardo Oliveira. Ele vai entrar em campo com a inteira confiança da comissão técnica.
Ricardo Oliveira está disposto a aproveitar de vez a oportundade que considera “de ouro”. Ele conta com a modéstia e a sinceridade que lhe são próprias que foi surprendido quando Parreira disse que ele jogaria contra o Uruguai – não esperava ser escalado.
– No meio do treino de terça-feira, o Parreira me chamou e disse que eu ia enfrentar o Uruguai. Fiquei muito feliz.
Ricardo Oliveria espera se sair bem no jogo contra os uruguaios do memso jeito que está se fazendo bem-sucedido na carreira. Revelado na Portuguesa, onde apareceu com seu futebol de artilheiro, se projetou no Santos onde foi contratado pelo Valência em 2003.
No ano passado, a diretoria do Real Bétis pagou 4 milhões de euros pelo seu passe e não deve estar arrependida. A oito rodadas do final do Campeonato Espanhol, ele é o teceiro artilheiro da competição, com 15 gols, quatro atrás do camaronês E’too. O Bétis está em terceiro lugar no campeonato e na semifinal da Copa do Rei.
– Estou me sentindo muito bem no Bétis. A fase está boa, os gols estão saindo e ainda dá para brigar pela artilharia, pois faltam oito jogos.
Feliz na vida profissional, Ricardo Oliveira diz que se sente bem como nunca na vida pessoal. Casado com Débora, com quem teve o filho Anthony, de 1 ano e dois meses, ele adora morar em Sevilha, uma cidade que o conquistou. Mais um grande motivo para olhar para trás e sentir vencedor.
– Por isso valorizo a minha profissão. O futebol me de deu tudo, me deu uma vida digna – diz.