‘O bonito no futebol é a qualidade, mas a luta e a tática também são’
Pedro Motta Gueiros
Para conter as travessuras do pequeno Alex, sua mãe ameaçava levá-lo ao temido delegado Cuca. De tão repetido, o nome virou apelido. Cuca agora é o homem da lei na Gávea. Com uma bronca no intervalo do Fla-Flu, o novo técnico pôs o time na linha e chegou a virar o jogo, terminado em 2 a 2. Hoje, vai comandar o seu primeiro treino, mas não há motivos para temê-lo. Cuca diz só querer resgatar a alegria e o bom futebol.
Futebol se ganha no grito?
CUCA: Tenho um lado racional, mas sou uma pessoa muito coração. Só iria observar o jogo, mas resolvi descer e dirigir à minha maneira. Queria ir para o banco, mas não tinha assinado a súmula. Falei para os jogadores que começaríamos o trabalho em cima do resultado do Fla-Flu. Uma derrota seria horrorosa.
O que te impressionou?
CUCA: A atitude que o time não teve. A marcação até funcionava, mas não havia iniciativa de buscar o gol por medo de perder o jogo. No futebol, o emocional, o físico e o técnico andam juntos com a tática. Um puxa o outro. Como ninguém está em plenas condições físicas, você põe mais coração e, com moral, as coisas ficam mais fáceis. Não é com paciência e monotonia que se vira jogo. É preciso qualidade e volúpia. A torcida do Flamengo faz diferença e tem que ser explorada.
Além dos gritos, você foi acolhedor com Dimba…
CUCA: E ele já teve sorte, que é dos fatores mais importantes do futebol. Nos outros jogos, entrava cara a cara e o gol não saía. No Fla-Flu, nem entrou livre e já fez o gol.
O futebol do Rio tem ainda uma escola própria?
CUCA:Tem um estilo de jogo sim, mas veja quantos jogadores de fora estão aqui. O bonito no futebol é a qualidade técnica, mas a tática também é linda e o espírito de luta, também. Hoje, o craque só vai brilhar se estiver bem fisicamente. Do contrário, um marcador carrapato o neutraliza.
Surge um Fla à gaúcha?
CUCA:Não. Primeiro que sou paranaense, segundo que o Goiás não tinha nada de futebol gaúcho, tampouco o São Paulo. Meus times jogavam para frente e tinham artilheiros. Mas gosto de luta, empenho e entrega. Não abro mão. Por que a primeira coisa que a torcida pede é raça? Porque sente que dentro de campo estão lutando por ela.
Os pequenos cresceram?
CUCA:Quem começou antes tem certa vantagem. Quando todos estiverem no mesmo patamar, a tendência é que os grandes superem. Mas é preciso enaltecer o trabalho dos pequenos, se estivessem no Campeonato Paulista também dariam trabalho.
Vai começar por onde?
CUCA:Gostaria de passar uns quatro dias fora do Rio para cuidar do repouso e da alimentação. Hoje, temos 20 jogadores, oito juniores, um elenco abaixo do limite. Precisamos de mais jogadores de grupo e para brigar pela titularidade.
Sabe que está assumindo um dos elencos mais pobres do clube nos últimos tempos?
CUCA: Então vai ter que aparecer o trabalho coletivo. E vamos formar um grupo bom. Primeiro temos que resgatar o bom futebol e a alegria de vir para o treino. A meta, hoje, é apenas ter um grupo.
Você e o Flamengo lutam para voltar à elite nacional?
CUCA: Passei só um mês no Grêmio, não estava em condições ideais. Virei o ano passado com minha filha no hospital. Devido a esse problema pedi para sair do São Paulo. Hoje, está tudo bem e posso me dedicar só ao trabalho.
Tem vínculos com o Rio?
CUCA: É novidade para mim, só estive aqui a trabalho, nem o Pão de Açúcar eu conheço. Não acredito nessa história de que se treina menos aqui, isso não existe para quem gosta de vencer e trabalhar. Estou pagando minhas contas de uma obra em Curitiba e organizando as coisas para chegar com a cabeça só no Flamengo.
Pelo histórico de inadimplência do clube, será que vai terminar a obra?
CUCA:Azar do meu pedreiro. Não exigi garantias, confio na palavra de quem me contratou. E é essa confiança que vou passar para o time.
Você veio de clubes turbulentos politicamente. Como se proteger na Gávea?
CUCA: Estou vacinado porque não ligo e não conheço, não sei quem é a pessoa. Com bons resultados, a política não entra em campo.