Carlos Alberto, un capitão de respeito
Carlos Alberto Torres foi um capitão que soube se fazer respeitar. Em uma Seleção Brasileira que tinha Pelé, Gérson, Piazza, jogadores experientes e líderes em seus clubes, Carlos Alberto recebeu a braçadeira numa excursão à Europa, em 1968 (o treinador era Aymoré Moreira) e a manteve até a consagração no dia 21 de junho de 1970. Depois da goleada de 4 a 1 sobre a Itália, no Estádio Azteca, no México, o capitão do tricampeonato ergueu a Taça Jules Rimet que a Seleção Brasileira por direito acabara de conquistar definitivamente.
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– Acredito que o meu temperamento extrovertido, de falar as coisas abertamente, contribuiu para que eu fosse o capitão de uma Seleção Brasileira cheia de craques e jogadores com espírito de liderança. Mas o que determinou mesmo isso foi o fato de eu ser também o capitão do Santos, na época o maior time do mundo – conta Carlos Alberto.
A cena que aconteceu na Tribuna de Honra no Estádio Azteca o emociona até hoje. Carlos Alberto diz que, naquele momento, pôde experimentar o orgulho que, quando garoto, viu Belinni e Mauro viverem na Suécia e Chile, respectivamente. Mas nem nos melhores dos seus sonhos, imaginou que seria tão empolgante – afinal, ele estava representando a Seleção que acabara de recuperar o respeito no mundo.
– O futebol brasileiro estava desacreditado depois do fracasso de 1966, na Copa da Inglaterra. Então, aquele foi um momento especial. Antes da final contra a Itália, fiquei imaginando como seria a minha reação. Chegou na hora, quando recebi a taça, não consegui pensar em nada. É uma alegria que não dá para comparar nem descrever – conta.
Carlos Alberto Torres tinha 14 anos em 1958. Lembra bem do time que foi campeão mundial na Suécia. Assistiu em vídeo-teipe aos jogos do bicampeonato no Chile, em 1962, e acompanhou atentamente as campanhas do tetra, em 1994, e do pentacampeonato, em 2002. O que lhe dá a convicção de afirmar que a equipe de 1970 foi a melhor Seleção Brasileira da história.
– A Seleção de 1958 era espetacular. Mas o time de 70 não tomava conhecimento dos adversários, desde as Eliminatórias venceu os jogos por goleada. Aquele time não deixava dúvida, entrava em campo para ganhar, e ganhava. Além disso, naquela época, a Copa do Mundo reunia as melhores seleções do mundo de verdade, não havia adversário fácil – conta.
A Seleção Brasileira que Carlos Alberto considera a melhor de todos os tempos começou a ser formada em 1969, por João Saldanha. O jogador conta que Saldanha teve a inteligência – e o mérito – de convocar a base do Santos para formar o grande time que se classificou invicto nas Eliminatórias. Mas Carlos Alberto aproveita para fazer justiça a Zagallo, o técnico que substituiu Saldanha.
– Claro que o João Saldanha foi importante na campanha do tri. Mas dizer que o Zagallo pegou o time pronto é injustiça. O Zagallo foi fundamental na conquista, mudou a escalação e o esquema tático – conta.
Um lateral direito muito ofensivo
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Nas mudanças feitas por Zagallo, Carlos Alberto cita o deslocamento de Piazza para a zaga, a efetivação de Clodoaldo no meio campo e a entrada de Rivelino, para desempenhar o papel de ponta recuado e ajudar o meio-campo.
– O time já jogava também em bloco, como hoje se diz que é o ideal, dentro do esquema tático traçado pelo Zagallo. Recuava quando perdia a bola e atacava com seis, sete. Eu, mesmo, atacava o tempo todo – conta.
Foi atacando dessa maneira que Carlos Alberto se consagrou na final contra a Itália. Foi dele o gol que selou a vitória de 4 a 1, num lance que o lateral-direito descreve com detalhes. Ele revela que por pouco o gol esteve ameaçado de não sair, se a jogada que começou com Jairzinho não fosse parar nos pés de Pelé.
– Faltavam dois minutos para o jogo terminar. Eu estava cansado, parado na linha do meio-campo e sem gás para avançar. Quando o Jairzinho dominou a bola, pensei, não vou mesmo, porque ele vai tentar o lance individual, que era uma característica dele. Acontece que ele adiantou um pouco a bola e, antes que o zagueiro chegasse, tocou de bico para o Pelé.
Carlos Alberto continua a contar o lance do gol.
– Aí, não tive dúvida. Parti para o ataque, por que sabia que o
‘crioulo" ia me dar o passe, já que a gente cansou de fazer essa jogada no Santos. Não deu outra. Ele rolou e foi só chutar. Como eu estava na corrida, não precisei ajeitar o corpo, por isso o chute saiu tão forte. Eu não chutava forte daquele jeito! – recorda.
A final contra a Itália é inesquecível para Carlos Alberto. Mas o jogo-chave da campanha do Brasil no México, segundo o lateral, foi o da vitória de 1 a 0 sobre a Inglaterra, ainda nas oitavas-de-final.
– Esse foi o jogo da Copa. A Inglaterra tinha um timaço, lutava pelo bicampeonato mundial. A gente sabia que quem vencesse chegaria à final da Copa – diz.
O jogo-chave contra a Inglaterra reserva outra história que Carlos Alberto explica 34 anos depois como aconteceu exatamente – a entrada violenta que deu no ponta inglês Francês Lee.
– O Lee já tinha dado uma cacetada no Marco Antônio. Depois, deu um chute no rosto do Félix, que estava caído. Aí, gritei para o Pelé, que sabia bater sem o juiz ver, que alguém tinha de dar uma no cara. O Pelé, respondeu. “Deixa que eu vou pegar ele". Só que no primeiro lance, a bola sobrou dividida entre mim e o Lee, e não tive escolha. Só que, ao contrário do Pelé, eu não sabia bater e quase fui expulso – conta.
Na Copa do Mundo de 1970, da qual saiu apontado como o melhor lateral-direito do mundo, Carlos Alberto conseguiu superar a frustração de ter sido cortado quatro anos antes, às vésperas do embarque para o Mundial da Inglaterra.
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– Na época fiquei arrasado, porque sabia que tinha condições de ser o titular. Mas a alegria que tive em 70 apagou tudo – afirma Carlos Alberto, que começou a jogar no Fluminense, se consagrou no Santos, passou por Botafogo e Flamengo e encerrou a carreira no Cosmos, de Nova Iorque, em 1982.