Não é preciso conversar muito com Andrade para perceber que ele é uma pessoa ponderada e tranqüila. E é justamente dessa calmaria que ele precisa na semana de treinos para enfrentar o Atlético Mineiro, domingo, em Ipatinga. O técnico abriu as portas de sua casa, na Barra da Tijuca, para receber a equipe do JS e falar um pouco desse novo momento em sua vida. Aos 47 anos, o ex-craque está no comando, pela primeira vez, de um grande clube. E logo o Flamengo, que lhe garantiu inúmeras conquistas e o transformou num dos ídolos da maior torcida do Brasil.
Família —“Gosto de sair com a família para fazer programas calmos. Sou casado há 24 anos com a Edna e tenho três filhos: a Tabatta, a Tayana e o Tayohan. Todos com a letra t porque minha mulher quis assim. Aqui em casa não sou eu quem manda. Eles me acompanham nos jogos e chegam a dar alguns palpites na escalação porque são rubro-negros. Às vezes comentam que um jogador não está muito bem. Mas da porta pra fora sou eu quem decide.”
Passado — “Pelo Flamengo tive as melhores experiências da minha vida. Fui para a Itália em 88, quando joguei pela Roma. Quando voltei conquistei meu quinto Campeonato Brasileiro pelo Vasco, em 89. Mas nem todo mundo se lembra disso pela identificação que tenho com o Flamengo. Depois joguei em alguns clubes pequenos em Santa Catarina, Mato Grosso, Maranhão, Espírito Santo e encerrei a carreira no Barreira, aos 37 anos, porque tive problemas no joelho. Não me arrependo de nada. Se tivesse que fazer tudo de novo, faria.” Substituições — “Hoje, estamos em um momento no qual não pode haver vaidade. As mudanças que fiz foram táticas porque temos que ter uma equipe mais competitiva. O Zinho é um grande flamenguista e sabe que o clube está acima de tudo. O grupo está unido e focado em se manter na Primeira Divisão. O caso Dimba já é passado. Agora queremos sair dessa situação e os jogadores estão conscientes disso.”
Ricardo Gomes — “Ele é uma pessoa excelente e honesta. Chegamos a jogar juntos pela Seleção e quase disputamos a Olimpíada de 88. Ele ficou triste por ter saído do Flamengo, chegou a se emocionar, mas sei que está torcendo por nós. Ele segurou a barra sozinho e acabou se desgastando. Mas nos falamos depois disso tudo e ele está desejando o nosso sucesso.”
Carreira — “Fui técnico do CFZ durante oito anos e também comandei a Seleção sub-17, pela qual fui campeão sul-americano e convoquei o Júnior (cabeça-de-área do Flamengo) pela primeira vez. Trabalhar no Flamengo é totalmente diferente. Aqui é uma grande vitrine e a pressão é muito maior. Ainda estou me acostumando às vaias da torcida, porque nunca tive que passar por isso quando era jogador. Quero continuar aqui depois desse campeonato, mas ainda falta muito para chegar à Seleção. Sou fã do Parreira, que, além de ter me treinado na Seleção de 83, explica o que pensa com simplicidade para os jogadores. Também gostava muito do Coutinho.”
Elenco — “Já conhecia o potencial de todos. Estou com esse grupo desde o começo do ano. Julio Cesar é goleiro de Seleção e acho que Íbson tem tudo para disputar a próxima Copa do Mundo. É um jogador versátil e inteligente. A zaga está indo bem. Não tem como falar mal do Baiano. Valdomiro está ganhando confiança e melhorando a cada partida.”
Andrade por Andrade — “Como profissional sou muito crítico e exigente comigo mesmo. Quero chegar o mais próximo da perfeição e me esforço muito para isso. Como pessoa posso dizer que sou caseiro, tranqüilo e não gosto muito de noitada. Sair só para beber um chopinho com a esposa nas sextas-feiras, escutando uma música ao vivo. Não sou de viajar muito e sempre que tenho uma folga fico em casa, descansando.”