Magrão pode ter na partida contra a Colômbia a oportunidade de coroar um sonho de garoto, desde quando jogava pelada nas ruas da favela de Heliópolis, que diz ser a mais populosa da América Latina, na periferia de São Paulo. Ser convocado para a Seleção Brasileira já fazia parte das suas aspirações, o que aconteceu pela primeira vez no amistoso contra o Haiti, mas começar jogando uma partida das Eliminatórias representa definitivamente que o seu bom futebol vem sendo reconhecido. Confirmada a sua escalação contra os colombianos, Magrão espera fazer no jogo o que sempre faz toda vez que entra em campo.
– Joguei 45 minutos contra o Haiti e não quis saber se era um amistoso festivo. Entrei como se fosse uma decisão. Agora, vou dar tudo de novo, para mostrar ao Parreira que tenho condições de fazer parte da Seleção – diz.
Muito antes de chegar à Seleção Brasileira, Magrão se viu obrigado a superar muitas barreiras. A primeira delas, descoberta ainda menino, a de que precisava sair da favela, mudar-se com os pais e irmãos do lugar onde ainda tem muitos amigos, mas que o deixava sem muita alternativa que não fosse o caminho da marginalidade. O futebol o ajudou.
– Por isso tenho orgulho de ser jogador de futebol. Graças à minha profissão, fui ainda garoto para o São Caetano. No meu primeiro contrato, comprei uma casa e tirei a mina mãe da favela – conta o jogador.
Magrão tem agora mais gente para cuidar. Há quase cinco anos no Palmeiras, admirado pelos torcedores, que vêem nele o símbolo da volta do time à Primeira Divisão, o jogador faz de cada jogo uma batalha para poder cuidar do futuro dos filhos, Matheus, de seis anos, e Pedro, quatro meses. Todo o dinheiro que ganha é voltado para a família.
– O futebol e a formação familiar me ajudaram a não ter o mesmo destino de amigos meus que entraram para a vida errada e já morreram. Não tenho grandes ambições financeiras, o dinheiro que ganho invisto no futuro dos meus filhos – diz.
Com 25 anos, pretendendo jogar por mais 10 anos, Magrão já escolheu o que fazer quando pendurar as chuteiras.
– Quero ser comentarista de futebol. Acho que tenho jeito – diz Magrão, que não terminou o segundo grau, mas se revela interessado em aprender, leitor costumeiro de obras que retratam o dia-a-dia, situações que lhe dizem respeito, que diz ter vivenciado – não gosta de livros de ficção. Gostou muito de Abusado, de Caco Barcelos, e no momento está lendo Por um fio, de Dráuzio Varela.
– O futebol atrapalhou os meus estudos, não pude terminar o segundo grau. Mas nos momentos ociosos da concentração estou sempre procurando aprender, gosto de ler. Por isso não gosto e não entendo quando chamam o jogador de futebol de burro – diz.
Dentro de campo, Magrão se define um volante que sabe marcar mas também jogar quando tem a bola nos pés. Admirador quando criança de César Sampaio e Neto, ele acha que na Seleção Brasileira não há necessidade de se escalar três cabeças-de-área como é feito nos clubes.
– Na Seleção a qualidade é muito grande. Fiquei impressionado com a facilidade que todos têm para jogar – diz.
Magrão também ficou bem impressionado com o ambiente que encontrou na Seleção Brasileira. Em meio a tantos craques, consagrados mundialmente e realizados financeiramente, percebeu companheirismo e amizade.
– Fui muito bem tratado, o ambiente na Seleção e ótimo, tem menos competição que nos clubes. Vejo que muito craque aqui chega a ser humilde – diz.