Mais do que uma celebração ao esporte, a Copa do Mundo tem um contexto social importante para entendermos a geopolítica. A cada quatro anos, o Mundial mostra atletas nascidos em países menos desenvolvidos que alcançaram a fama em times europeus. Muitas vezes, jogando contra seleções onde foram nacionalizados.
Um exemplo é Achraf Hakimi Mouh, ou apenas Hakimi, lateral-direito do Marrocos, jogando no Paris Saint-Germain. Aos 24 anos, o hispano-marroquino foi responsável pelo pênalti decisivo, de cavadinha, contra a Espanha. Aliás, o jogador nasceu na capital espanhola e eliminou a seleção de Luis Henrique do Mundial.
Filho de um camelô e de uma empregada doméstica, o lateral conseguiu levar a seleção do Marrocos mais longe na tarde de terça-feira (6). Na ocasião, o pai Hassan Hakimi, de 54 anos, era apenas mais um entre os 300 marroquinos reunidos em um restaurante de Parla, a 16 km do centro de Madrid.
Assistindo ao jogo contra a Espanha, pela televisão, o homem de cabelos brancos e um sorriso simpático, espera a partida acabar para, então, subir em uma mesa e comemorar a vitória do país africano, mas também do filho. Vestindo um ‘djellaba’ (manto) nas cores do Marrocos, Hassan Hakimi era só alegria.
A performance do filho em campo era motivo de orgulho para o pai, homem que chegou à Espanha sem ao menos portar documentos, em 1988. Pela trajetória do filho, a família passou de meros imigrantes para representar o orgulho que tomou conta do continente africano. E o jogador não esqueceu suas origens.
Arquivo Pessoal
De imigrantes sem documentos ao sucesso do filho
O casal fixou moradia na cidade de Getafe, onde nasceram os filhos Achraf, Nabil e Widad. Durante três décadas, a família se sustentou com o trabalho do pai. Hassan vendia frutas e roupas nas praças e mercados de Madrid. Enquanto a matriarca limpava casas.
Inclusive, a mãe do jogador presenciou, ao vivo, o gol do filho no Qatar. A imagem de Hakimi se afastando dos companheiros durante a comemoração, se dirigindo até a arquibancada, para abraçar Saida Mouh. A imagem do abraço entre mãe e filho é uma das mais bonitas do Mundial, até agora.
Em entrevista recente, o atleta descreveu a história familiar: “Minha mãe limpava casas. Meu pai era vendedor ambulante. Que eu pudesse jogar futebol foi um esforço e um sacrifício para eles. Meus irmãos também tiveram que se sacrificar. Éramos muito pobres. Agora luto por eles”. No jornal El País, o jornalista Jacobo García narrou o momento atual da família.
“Por alguns anos, Hassan Hakimi, originalmente do Atlas, não viaja mais pela Espanha com sua van de mercado em mercado ganhando a vida. E sua esposa, nascida em Alcazarquivir, mora em uma elegante villa em Getafe. Os dois irmãos do futebolista também nasceram em Madrid. Nabil, 25, é jogador de futebol em Getafe e Widad está estudando na universidade.
Mas além do exemplo da família, Hakimi é um orgulho para todo um país e uma das referências do futebol árabe e africano para uma geração de adolescentes que mandam suas jogadas, seus gols, seus carros ou suas aparições públicas juntos de celular em celular. , a popular atriz Hiba Abouk, de origem tunisiana.
Dentro e fora de campo, é uma referência vital para um país com poucos ídolos a seguir e que fez da sua equipe um dos poucos elementos de coesão territorial para além do Rei e da religião. Embora tenha nascido no Hospital Gregorio Marañón, em Madrid, Hakimi é o cabeça de um jovem, o do seu país, que consome o futebol europeu desde o berço, e renunciou à seleção espanhola para liderar a melhor geração de futebolistas marroquinos.
O jogador já foi capa da revista Vogue Arábia e é comum os jovens imitarem sua aparência, copiando o corte de cabelo e usando chinelos como os que o atleta calça no vestiário. Hakimi é uma inspiração para o futebol e para o mundo.
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