Rogério Micale tem 53 anos e é treinador profissional de futebol. Seus trabalhos de maior destaque foram nas categorias de base do Figueirense e Atlético-MG além de, é claro, estar à frente da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos 2016, quando a equipe masculina conquistou a primeira medalha de ouro no futebol.
Micale passou por momentos de “tensão” até, enfim, conseguir alcançar o maior título da sua carreira até aqui. Ele tinha confiança no time, mas a pressão era grande, principalmente por jogar em casa.
“Foi muita responsabilidade, mas depois também veio muita satisfação.”
Os bastidores rumo ao ouro olímpico
O momento era de muitas cobranças. O Brasil vinha de resultados ruins na seleção principal, o que causou a demissão do então técnico Dunga, que comandaria a equipe nas Olimpíadas. A CBF ofereceu o cargo à Micale, que já era o treinador do sub-20. Ele resolveu encarar o desafio.
“Quando o Dunga foi desligado, eu tive 24 horas para aceitar e assumir a seleção olímpica. Era necessária uma tomada de decisão muito rápida.”
Ter um elenco jovem, porém estrelado, ajudou bastante o trabalho do treinador brasileiro, já que os atletas eram acostumados a trabalhar sob pressão. Gabigol, Gabriel Jesus e, é claro, Neymar, faziam parte do plantel.
“Com um elenco de nível tão alto, você não precisa fazer cobrança, porque eles sabem que precisam estar no ápice da sua forma, e o Neymar é um cara desses.”
Micale, portanto, tinha o elenco em suas mãos, com todos focados em um único objetivo: o título. O Brasil, após ter empatado os dois primeiros jogos, passou por todos os outros adversários e conquistou a primeira medalha olímpica de futebol da sua história.
O técnico campeão relembra com orgulho do slogan criado para aquela seleção: “Principalmente sem a bola”. A frase se refere ao que ele considera um defeito no nosso futebol, quando os jogadores ficam “perdidos” e sem organização ou distribuição assim que perdem a bola para o time adversário.
Segundo ele, a equipe mostrou que tinha condições de jogar sem a bola, e o grande “líder” nesse sentido foi Neymar.
“Se o Neymar faz, todo o resto vai atrás. E essa foi a grande importância dele nesse aspecto.”
Visão sobre o futebol brasileiro: a cultura de “heróis” e “vilões”
Rogério Micale viveu, assim como a grande maioria dos treinadores brasileiros, com o imediatismo na busca por resultados positivos. Isso, inclusive, lhe custou o cargo da seleção brasileira sub-20, mesmo após o título olímpico.
“Nós temos uma cultura, no Brasil, de buscarmos heróis e vilões. Quando se ganha, a gente se remete à uma, duas pessoas. E quando perde, o culpado é o treinador ou o jogador que perdeu um gol.”
Mas não foi só por aqui que Micale conviveu com a pressão e o imediatismo para vencer. Mesmo sem ter perdido dois jogos seguidos em nenhum momento e estar bem em todas as competições, ele foi demitido do Al Hilal, da Arábia Saudita, no ano passado.
“Eu fui demitido nas vésperas de ser campeão árabe e da Champions Asiática. Entrou outro cara no meu lugar e ganhou pouquíssimo tempo depois.”
Para Micale, uma receita para melhorar bastante o nível do futebol no Brasil seria acabar com os campeonatos estaduais e criar um calendário nacional. Mas ele acha que, no fim das contas, isso nunca vai acontecer, já que muitas pessoas teriam que “abrir mão do poder”.
Expectativas para a Copa do Qatar e sobre o próprio futuro
Micale acredita que o Brasil é um dos grandes favoritos ao título da Copa do Mundo do Qatar e que Tite, agora com mais experiência no cargo, pode fazer toda a diferença.
“O Tite da última Copa não vai ser o Tite da próxima. Ele adquiriu confiança e experiência.”
Para ele, só falta uma “coisinha” para a seleção ficar completa: convocar o atacante Hulk, do Atlético-MG.
“Só tem um cara que eu não deixaria de fora da seleção de jeito nenhum: o Hulk. Ele oferece um estilo de jogo que ninguém da seleção tem.”
O treinador agora pensa em trabalhar fora do país e confessa estar perto de assinar com uma seleção estrangeira. Suas últimas experiências no Brasil não foram as melhores, pois viu seus atletas conviverem com salários atrasados, o que atrapalha, e muito, o trabalho.
A entrevista ao Sambafoot, na íntegra, com muitas histórias da trajetória do treinador – desde arrependimentos, ensinamentos a desavenças -, você confere no vídeo acima e no nosso canal do YouTube.