EXCLUSIVO – Entre números e carinho brasileiro, Cano quer a Libertadores: “Faltam três finais”

Atual artilheiro da competição sul-americana, goleador do Fluminense fala ao Sambafoot sobre a expectativa para a semifinal contra o Inter e a vida de ídolo no Rio
Publicado em 26/09/2023 às 21h48

“Vamos, Tricolores, chegou a hora, vamos ganhar a Libertadores."

É com esse canto que a torcida do Fluminense embalará o time nas próximas quartas-feiras, na semifinal da Copa Libertadores, em que a equipe enfrenta o Internacional. A primeira partida será no Maracanã, amanhã (27), enquanto a definição virá no Beira-Rio, no dia 4 de outubro.

Já entrando no clima do torneio, o Sambafoot fez uma entrevista exclusiva com o atacante Germán Cano, artilheiro do mundo em 2023 e um dos líderes do elenco do Fluminense.

“Estou tranquilo, obviamente que a gente sempre pensa nisso. Sabemos que é um adversário muito difícil agora, que é o Inter. Tudo o que o Inter representa na história é grande, então temos que manter os pés no chão para poder conquistar esta taça. Sabemos que está tudo muito equilibrado. Os quatro times estão jogando bem, são times fortes, tanto em casa quanto fora. Estamos competindo e chegamos aqui com esse mesmo discurso de competir. À medida que passamos o tempo, encontramos mais, como Fernando [Diniz] fala, o que temos que fazer dentro de nós mesmos para melhorar dentro do campo e lá podemos continuar passando devagar. Sabemos que é difícil, faltam três finais para conquistar esta taça", disse ele.

Queria que você falasse dessa sua identificação com a torcida do Fluminense, que foi tão rápida e tão boa, né?

É um momento muito bom da minha carreira, acho que no ano passado, poder fazer parte do Fluminense, de poder chegar ao Fluminense, poder fazer o meu melhor, poder estar também tocando com o Fred, que estava no último momento de aposentar. Então, para mim era um desafio muito grande. Aí cheguei e todo mundo me recebeu muito bem aqui, todo mundo dando esse carinho que a gente precisa para poder fazer tudo o que faço dentro do campo. Então, acho que foi tudo muito natural. Aqui, a conexão com todo mundo foi muito boa, mesmo com a nossa torcida também, porque comecei a fazer muitos gols. Então acho que esse carinho, esse respeito foi muito grande. À medida que foi passando o tempo, foi pra mim uma honra muito grande poder fazer um gol no Maracanã, poder fazer parte da torcida e poder continuar fazendo história aqui. Eu sei que ainda tem pouco tempo, mas é um momento muito lindo que eu estou aproveitando muito bem e que Deus quiser poder continuar fazendo dele e continuar dando muitas alegrias a nossos torcedores. Um momento lindo, um momento lindo de poder ficar marcado nesse momento, na despedida dele, um momento que nos últimos meses pra ele foi com muita sensação encontrada. Porque ele já ia parar de jogar, então esse momento foi lindo, foi lindo demais que vai ficar sempre marcado no meu coração. Porque quando cheguei aqui, a relação com ele do primeiro momento foi muito boa, foi muito linda, muito natural também. E ele me recebeu muito bem. E aí começamos a ter uma amizade incrível, tanto dentro do campo como fora. E pra mim, poder representar a ele dentro do campo também era um desafio grande, então acho que eu estou aproveitando muito bem pra poder conquistar grandes coisas aqui.

Vocês conseguem sentir esse carinho das outras torcidas também, fora da torcida do Fluminense?

Sim, eu recebo muito carinho pelas redes sociais também, mesmo quando eu vou no shopping também. Todo mundo que tira foto, Flamengo, Vasco, Botafogo, todo mundo quer tirar foto e não tenho problema com ninguém. Então eu acho que marquei um respeito muito grande aqui, e pra mim isso é muito importante.

Como é sua relação com o Fernando Diniz? Hoje estamos vendo ele na seleção brasileira também, então já era uma expectativa maior.

Trabalhei com Fernando no Vasco. Nos últimos três meses no Vasco trabalhei com ele e conheci uma pessoa maravilhosa, com um coração muito grande, sempre tentando ajudar os jogadores de futebol. No meu caso, ele me ajuda muito. Hoje a relação é ainda melhor. Temos uma conexão muito boa dentro e fora do campo. E ele é parte do meu processo aqui no Fluminense, que foi muito bom. A relação é muito legal porque todos os dias aprendi muito com ele.

O John Kennedy deu uma entrevista dizendo que você tem fome de gol, uma vontade de marcar gols muito grandes. Como é isso?

Temos que ter essa mentalidade de marcar gols. Quando acordo, já penso no meu gol. Quando começamos a treinar, já visualizamos o que vamos fazer em campo, o que temos que fazer no treinamento. Acho que toda vez que tento visualizar o jogo e depois marcar gols, cada vez que se apresenta a situação, estou comigo mesmo nisso.

Por exemplo, seu gol contra o Olímpia, no Maracanã, não é um tipo de gol que você treina. Foi uma oportunidade que a bola ficou ali e você fez um voleio…

Eu vi a bola chegando e tentei me posicionar sobre o corpo do defensor Olímpia. E lá a bola ficou na altura da cintura e consegui chutar meio de costas, meio de voleio. Acho que é preciso ter recursos para marcar dentro da área. Acho que é um recurso muito bom para marcar gols.

O público se diverte muito com isso, nestas duas temporadas você já marcou gols de todas as maneiras. Gol de pé esquerdo, gol de cabeça, gol de longe, gol de pé direito. Acho que isso é muito legal. Falta algo? 

Falta um de bicicleta.

Você tem algum pedido especial ou é só uma brincadeira?

Não, só brinco com os companheiros e com a equipe da imprensa. Mas se aparecer a oportunidade, digo que é bem-vindo.

Vemos as listas em que você é colocado como o artilheiro do mundo, aquele que tem mais gols. Hoje você está na frente de Haaland, Benzema, Mbappé, Cristiano Ronaldo, Messi, todo mundo. Você se acompanha nessas listas? Como se sente com isso? 

Eu acompanho, sim. Vejo muito futebol europeu. E ficar assim entre esses caras incríveis, que jogam muito bem, que ganharam tudo com suas equipes, para mim é um prazer. É uma recompensa para o meu trabalho, para o meu esforço dia a dia, e para poder retribuir ao time dentro do campo. Espero continuar desse jeito, continuar ajudando o time e continuar fazendo gols.

Tem essa meta também de passar 44 gols, que é o maior número da sua carreira numa temporada?

Não, a meta não, porque nunca… Nunca tentei poder chegar a uma meta. Desfruto de um momento, desfruto de cada jogo e depois, no final da temporada, começo a olhar e a ver os parâmetros até o que chegue, mas… Se dá para passar, é difícil passar, porque no ano passado foram 44 gols. É difícil fazer uma temporada com 44 gols. Mas sempre estou preparado para tudo, tenho muita experiência e se dá para passar e dá para chegar ao time, é muito melhor.E a sua comemoração, o famoso L? Queria que você falasse um pouco mais disso, dessa invenção, como foi, falando com sua esposa sobre isso.

Desde quando jogava na Colômbia, já comemorava um gol com a letra L, por meu filho Lorenzo. E aí, quando cheguei aqui no Brasil, também continuava com a mesma comemoração, e teve todo um processo, desde 2018 até agora, que nasceu Leonella, então, a gente queria continuar com a mesma comemoração e aí falei com minha esposa para poder colocar um nome da letra L para minha filha, então, acho que ficou um momento lindo, um momento que marcaram muito na minha vida, por tudo o que representa, por tudo o que aconteceu em minha família, um momento muito especial, muito lindo e que eu desfruto dia a dia deles e de cada vez que eu faço gol também, porque tudo é para eles.

Foi muito interessante o nome da Leonella, para homenagear Lionel Messi e Antonella. Vocês estavam na Copa do Mundo, viram a Argentina ser campeã…

Sim, fomos ao Mundial do Qatar, com minha esposa e com meu filho. Minha esposa ficou grávida lá, lá no Mundial. A gente foi campeão do mundo. Pela primeira vez que assistíamos a um Mundial, ao vivo, em família. A minha primeira vez também. Aconteceram muitas coisas lindas para poder tentar colocar esse nome de Leonella, de Leo por Messi e Nella por Antonella, que é a esposa dele. Eu acho que tudo certo, minha esposa aceitou, foi um momento difícil porque ela não queria, e pouco a pouco fomos convencendo, até, eu acho que um dia antes de nascer. Ela, no mesmo dia de nascer, aceitou colocar o nome de Leonela.

Foram nove meses tentando convencer? 

Praticamente, todo o processo, nove meses.

Você já jogou em outras ligas aqui da América do Sul… Você acha que o Brasileirão e as competições nacionais aqui do Brasil são as mais fortes ou não dá para ter uma comparação assim?

Eu acho que está entre a Argentina e o Brasil as competições mais fortes, por tudo o que representa, por sua história. Eu acho que são duas ligas muito boas que eu gosto muito, eu gosto muito do Brasileirão, gosto muito de jogar, gosto muito desse cenário, de jogar a cada três, quatro dias. Pelo mundo, às vezes passa uma semana e já para mim é muito longo,, já que estou acostumado a jogar cada três, quatro, então, Então, ficar uma semana assim, estendida, para mim, é estranho.

E na Argentina, o futebol também, a torcida também, puxa muito os jogadores, o ambiente é muito bom. É tudo muito parecido com o que é aqui no Brasil. Então, duas liga muito boas.

Eu estava vendo que a sua família, se não me engano, torce para o River. Se vocês pegassem o Boca Juniors na final da Libertadores e ganhassem, seria uma alegria maior ainda.

Sim, sim, sim. Meus irmãos são fãs do River.  Aí fui jogar na Argentina contra o River. A minha família estava no campo. Foi lindo, mas eles estavam torcendo pelo Fluminense. Agora não sei quem vai chegar na final. Não posso falar porque não sei. Os quatro times podem chegar nessa final. Então, primeiramente temos que passar de fase contra o Inter.

Você falou que gosta de jogar duas vezes na semana por você mesmo. Você se imagina jogando por muitos anos ainda?

Sim, eu imagino. Mas não sei o que vai acontecer aqui na frente. O futebol muda muito rápido. Eu quero jogar e posso jogar até 40 anos. Cinco anos mais, já que tenho 35 anos. Poder jogar cinco anos mais seria muito bom. Com certeza. É difícil. Tem muitas coisas aí que podem acontecer. Não sei. Eu prefiro viver um dia a dia. Aqui tenho dois anos mais de contrato. Um momento muito lindo. Não sei o que vai acontecer. Espero que possa jogar o mais que puder. Porque eu gosto de treinar, gosto de jogar. Ficar parado assim também vai ser difícil. Nesse momento não sei o que vai acontecer também. Como eu vou agir, o que vai acontecer. Tem muitas coisas que tenho que analisar que ainda não analisei. Mais para frente veremos o que vai acontecer.

E como é a sua rotina aí no Rio de Janeiro? Fora desse ambiente de treino e de jogo, o que você faz? Você gosta de assistir séries, de ver filmes?

Agora que nasceu a Leonella é muito difícil poder fazer tudo isso. Só atender a ela e tentar poder dar todo o apoio à minha esposa. E poder ajudar.

É o momento agora de dormir pouco porque ela nasceu há quase quatro semanas. Estamos com quatro semanas praticamente sem dormir. Faz parte do processo, da família. Então o lazer vamos deixar de lado agora. Tenho tempo para descansar um pouco. Chegar aqui, treinar, e daqui ir para casa para poder descansar um pouco e ficar aí com a minha esposa. E com meus filhos, poder aproveitar um pouco deles também.

Houve um grande pedido para que você fosse convocado para a Copa do Mundo e acabou não acontecendo. Mas você ainda foi para o torneio, viu a Argentina ser campeã. Teve sua filha que eu acho que é um presente talvez muito maior do que qualquer conquista futebolista. Você entende tranquilamente não ter sido convocado? 

Não, foi tranquilo. Nesse momento todo mundo falava que eu tinha que estar na seleção. Mas eu sempre fiquei com os pés no chão e fiquei tranquilo aqui fazendo o meu melhor aqui em Fluminense. Eu não tinha esse controle de poder escolher. Então se tivesse que acontecer, aconteceria, mas não aconteceu.

Então eu estou tranquilo. Estou tranquilo. Tive uma temporada extraordinária aqui e todo mundo dizia que eu deveria estar na seleção argentina. Mas eu entendo muito bem como funciona o processo de seleção argentina, há muitos jogadores jogando muito bem, jogadores jovens jogando na Europa e passando por um bom momento. Eu estava tranquilo. Eu aproveitei muito aquele mês no Qatar com a minha família, assistindo aos jogos da Argentina, aos jogos de outras seleções. Foi um momento lindo que, independentemente de não ter sido convocado para a minha seleção, eu desfrutei. Fiquei muito feliz porque é uma lembrança que nunca vou esquecer por tudo o que aconteceu.

Mais de uma vez na sua carreira, você manifestou apoio às causas LGBT. No Vasco, enviou uma mensagem a Josh Cavallo, que foi um dos primeiros atletas a sair do armário. Queria saber por que você se envolve nessas causas. Porque vemos poucos jogadores fazendo isso, tendo esse tipo de atitude.

É um prazer apoiar essas causas, porque todos devem ser respeitados, todos devem ter igualdade de condições, independentemente de suas preferências, o respeito está acima de tudo.

Aquele momento do gol, de levantar a bandeira, foi muito espontâneo. Surgiu naquele momento e eu fiz o que queria fazer. Ficou marcado assim, se espalhou pelo mundo todo. Foi um momento lindo que faz parte de ser jogador e ser reconhecido. Você pode fazer muitas coisas nas redes sociais, dar conselhos, ajudar alguma causa. Ficou marcado assim porque é um prazer poder fazer tudo isso.

É muito importante, especialmente hoje em dia com os jogadores brasileiros, estamos vendo muitos casos de racismo. Quanto mais jogadores se manifestarem contra essas coisas, mais força as causas ganharão e esses crimes deixarão de existir.

É isso, a palavra dos jogadores é muito forte em todo o mundo. Eu acredito que se você juntar todos os jogadores e tentar resolver algo coletivamente, é muito bom. É um caminho certo para poder progredir na sociedade, poder dar esse apoio para as pessoas que não falam nada e têm medo de muitas coisas. O jogador pode fazer muitas coisas. A palavra dos jogadores é forte e é muito reconhecida mundialmente, então imagine se juntar todos e poder fazer algo, alguma causa tão grande. Seria magnífico para todos.

Queria saber qual defensor mais difícil que você já enfrentou em sua carreira, quem te marca mais colado para dificultar. 

Acho que todo mundo hoje tenta. E agora que todo mundo já me conhece um pouco mais, aí todo mundo me marca. Antes da bola chegar, já estão me marcando. Para mim, é muito mais difícil. Não sei, há muitos. Há jogadores que fazem muito bem seu trabalho. Gustavo Gómez no Palmeiras, um jogador assim também. Ele lê muito bem a jogada e antecipa muito bem o esforço e pula muito alto. Sim, ele está entre os que conseguem me marcar.

Você tem algum time que prefere enfrentar? Que você vê e diz: “Quero acabar com esse jogo". As pessoas dizem que é o Flamengo, não é?

Por toda história, o Flamengo é lindo demais, é diferente, o gol que dá outro sabor, outra sensação.

Você já passou por alguma história muito engraçada, muito inusitada, aqui no Brasil?

Tenho uma história com um amigo quando eu mal tinha conhecido o país. Quando chegamos aqui, a gente juntou para ir a uma praia. Aí fomos de Uber, e essa praia não tinha  wi-fi, não tinha sinal de telefone, não funcionava a internet. Aí a gente ficou todo dia lá na praia e a gente não tinha como voltar, já que não conseguíamos pedir um Uber. Ninguém parava na rua para levar. Aí meu amigo começou a fazer dedo aí, a ver se alguém chegava para voltar de carro. Conseguimos uma carona tempos depois porque fui reconhecido. Uma pessoa nos trouxe nos tratou muito bem.  Estávamos muito longe da cidade, acho que esse momento foi engraçado demais.