Para Celso Roth, a fase atual é de reflexão. Desde que iniciou a carreira como treinador de futebol há mais de três décadas, ele nunca parou. Agora, está fora do mercado há quase seis anos. E Celso prefere ver o “copo meio cheio”. O momento é de curtir a família e refletir sobre a carreira e a profissão.
Seus últimos trabalhos foram as passagens frustrantes por Vasco e Inter, em 2015 e 2016, respectivamente, quando as equipes foram rebaixadas para a segunda divisão. Mas ele mantém suas convicções de trabalho e afirma que ainda não vai se aposentar.
“O mercado é que me deixou de fora. Eu sou um cara muito disciplinado e claro nas minhas coisas, tenho muita atitude e decisão, e isso incomoda. Mas eu voltarei em breve.”
Celso ficou, justamente, conhecido por pegar grandes equipes do futebol brasileiro em momentos de dificuldade, o que lhe custou o apelido de “apagador de incêndio”. Existe arrependimento por ter aceitado esses desafios?
“Não me arrependo, mas tenho que fazer mea-culpa. Eu passei a não trabalhar nos campeonatos regionais e a só trabalhar nos nacionais. E aí começou a fama de apagador de incêndio”.
Celso ex-jogador e as várias passagens no Sul
Nem todos sabem, mas Celso Roth chegou a ser jogador profissional de futebol. A carreira foi curtíssima, entre 1975 e 1978, pelo Juventude. Naquela época, não era comum jogadores de menos de 18 anos estarem na equipe principal, mas ele conseguiu.
“Antigamente, estar no grupo principal com 16-17 anos era algo extraordinário, o que foi o meu caso. Eu parei de jogar porque eu tive uma lesão muito séria, no tendão patelar.”
Como a carreira de jogador teve que ser interrompida, Celso decidiu focar em terminar o seu curso de Educação Física para continuar no meio do futebol. Ele chegou a ser preparador físico antes de encontrar a profissão que seguiria por todos os anos seguintes: treinador de futebol.
Celso é natural do Rio Grande do Sul e teve o privilégio de trabalhar, várias vezes, na dupla Grenal. Ele disse que a possibilidade de retornar para esses times sempre existe, devido aos bons trabalhos feitos por lá, e acredita que a rivalidade “esquenta” a paixão dos torcedores.
“Eu sou gaúcho. Então, por um pouco de provincianismo, acho que o clássico daqui é mais ‘quente’ em questão de torcedores.”
A satisfação de conhecer o Brasil através do futebol
Mas é claro que Celso não trabalhou somente na dupla Grenal. Ele, inclusive, treinou praticamente todas as equipes consideradas “gigantes” do futebol brasileiro. Faltou apenas o Fluminense, São Paulo e Corinthians, se considerar os estados do Rio, Minas, São Paulo e Rio Grande do Sul.
“Trabalhar em vários locais diferentes nos faz ter um conhecimento enorme, e eu tenho que tirar proveito disso quando voltar a trabalhar.”
Celso teve duas passagens pelo Atlético-MG, em 2003 e 2009, e três pelo Vasco da Gama, em 2007, 2010 e 2015. Na época em que trabalhou nesses clubes, eles não eram estruturados como hoje. O Galo ganhou vários títulos recentes e o Vasco, mesmo na Série B, se tornou SAF.
“O Atlético se estrutura desde 2003, tem um dos melhores centros de treinamento do mundo, e o Vasco foi para o caminho da SAF. Fiquei satisfeito com os títulos recentes do Galo e espero que, pela grandeza do Vasco, o clube retorna à Série A.”
Celso também não deixou de destacar os grandes craques que ele diz ter tido a “honra” de trabalhar e conhecer. É o caso de Romário, considerado por ele um “gênio do futebol brasileiro”.
Mas é Ronaldinho Gaúcho quem Celso elege como o maior jogador que ele teve a felicidade de comandar até hoje. Na época, Ronaldo tinha apenas 16 anos quando jogava no Grêmio e já era considerado uma estrela.
“Eu trabalhei com diversos craques, mas coloco o Ronaldinho Gaúcho em um patamar um pouco mais acima.”
Sobre a próxima geração de técnicos e expectativas para a Copa
Roth acredita que a nova geração de treinadores precisará de muita paciência e resiliência para continuar exercendo a profissão. Para ele, aqui no Brasil, os dirigentes avaliam somente os resultados conquistados.
“Esses novos treinadores têm que ter muita persistência. Aqui não se avalia o trabalho, se avalia só o resultado.”
Celso disse que o atual grupo da seleção brasileira, comandada Tite, começou a ser formada na Copa do Mundo de 2010, disputada na África do Sul. Ele elogiou o trabalho feito pela comissão técnica, mas, se fosse o treinador, faria algumas mudanças.
“Está se encaminhando para o próximo grupo do Brasil ser o mesmo da última Copa… e penso que temos jogadores de perfil físico maior do que os que estão lá que poderiam ser aproveitados.”
Apesar disso, Celso diz que vai torcer muito para o título – que seria ótimo para todos que trabalham com o futebol no Brasil.
A entrevista, na íntegra, você confere no vídeo acima e no nosso canal do YouTube.