No dia 3 de maio, os clubes brasileiros assinaram a criação da Libra, a nova liga nos moldes da Premier League. Esse poderia ser considerado um momento revolucionário no futebol brasileiro, se não fosse por um fato: apenas oito clubes assinaram o documento.
Esse episódio escancara as muitas divergências entre as principais instituições esportivas do país. A ideia de substituir a CBF por organização própria agrada e tem potencial, mas o caminho não será fácil. Ao menos por enquanto, a tradicional desunião dos times se mostra um enorme obstáculo.
Visão geral da Libra
A Liga do Futebol Brasileiro (Libra) é um movimento para fortalecer os clubes brasileiros, que vai em linha com exemplos de sucessos internacionais. O maior deles é a Premier League, que desde o início dos anos 90 promoveu uma revolução no futebol inglês.
Inicialmente nada muda no formato dos torneios, a mudança é apenas na responsabilidade de organizar os torneios e controlar como é feita a divisão do dinheiro no futebol. A ideia é criar uma liga que é organizada pelos próprios times e pode atrair patrocínios e receitas bilionárias. Assim, no médio prazo, os clubes teriam uma condição financeira melhor e poderiam brigar comercialmente e esportivamente com outros gigantes do esporte.
Criar a liga parece ser um consenso. O problema é a forma como será feita. Os times que assinaram definiram o estatuto inicial.
Porém, do outro lado há o Forte Futebol, um grupo de 23 equipes, com participantes da Série A e Série B, que não concordam. Esses clubes desejam promover mudanças nas regras.
A discussão principal é sobre as receitas, como veremos a seguir.
Em resumo, assim estão os atuais “grupos” nas discussões da nova liga:
Divergências entre os grupos
Na última quinta-feira (12), uma reunião estava marcada na sede da CBF para seguir com as negociações entre os clubes. Porém, ela foi cancelada e as negociações estão paradas.
O grupo Forte Futebol marcou uma reunião para a próxima segunda-feira (16), no Rio de Janeiro, com o objetivo de formular uma contraproposta aos signatários da Libra.
A seguir, estão as principais discordâncias do grupo.
Divisão das receitas
O dinheiro é o principal empecilho no momento. Os nove clubes que assinaram defendem uma divisão 40-30-30, em que 40% seria dividido igualmente pelos participantes, 30% por desempenho e 30% por engajamento.
O Forte Futebol discorda dessa divisão e defende o mesmo número da Premier League, com 50-25-25. Nesse caso, a diferença na premiação entre o primeiro e último seria menor, o que poderia estimular o equilíbrio.
Ao mesmo tempo, o estatuto da Libra prevê 15% da receita para a Série B — um número que pode chegar a 20% em caso de rebaixamento de time grande. Porém, diversos times da Segundona defendem um repasse de 25%.
A adesão deles ao Forte Futebol veio depois que clubes como Fluminense e Athletico aceitaram a demanda.
Assim, será necessário chegar a um número em comum para avançar nas negociações.
Parcerias
As conversas para a criação da Libra movimentaram o mercado. Porém, há divergências sobre as parcerias com investidores e empresas interessadas.
O grupo que assinou a Libra tem o apoio da Codajas Sports Kapital (CSK), liderada pelo advogado Flavio Zveiter e que tem o BTG como captador de investidores.
Por outro lado, existe o interesse do banco de investimentos XP, que teria uma parceria com a La Liga para trazer investidores e também passar o seu conhecimento em outros aspectos, como tecnologia.
Também corre por fora o consórcio formado por Live Mode e 1190. Ou seja, a gestão da nova liga também não é um ponto de consenso, mas esse parece ser um problema menor.
O que esperar da Libra?
A Libra seria uma forma de unificar os clubes brasileiros. Porém, até o momento, esse objetivo está longe de ser conquistado. Dois grupos opostos foram formados, enquanto alguns clubes não têm posição definida.
O maior entrave, naturalmente, envolve a parte financeira, principalmente as receitas de televisão. Com a nova liga, os direitos seriam negociados coletivamente, o que deixaria o produto mais forte. Porém, sem um consenso da divisão dos valores, os próximos passos podem ser complexos.
Se não houver uma definição, a tendência é que os clubes negociem com as emissoras de forma separada. Isso é ruim para todos, porque desvaloriza a Libra. Ao mesmo tempo, o mercado pode ficar com um pé atrás. É difícil saber o que esperar.
De qualquer forma, os direitos atuais só terminam em 2024, então ainda há dois anos e meio para as discussões avançarem. Porém, a desunião nos primeiros meses é um indicativo ruim do que pode ser essa “nova realidade” no futebol brasileiro.