A Chapecoense enfrente uma grave crise institucional e entrou, no dia 3 de fevereiro, com um pedido de recuperação judicial junto à 1ª Vara Cível da Comarca de Chapecó. A solicitação foi atendida pelo juiz Ederson Tortelli. O clube confirmou a situação delicada em uma coletiva de imprensa, no dia seguinte ao pedido, que contou com a presença de diretoria e advogados que auxiliam o clube em todo o processo.
A ação deu 180 dias de “fôlego” das cobranças de credores sobre o clube catarinense. Além de garantir que as suas receitas não serão bloqueadas. As medidas determinadas foram: suspensão do curso de prescrição das obrigações do devedor, suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor e proibição de qualquer forma de retenção sobre os bens do devedor.
“A Chapecoense padece de uma grave doença, temos uma doença muito grave, estamos vegetando. Infelizmente, para toda doença grave, o remédio é amargo. E, muitas vezes, precisamos ousar com tratamentos especiais”, disse Luiz Peruzzolo, Vice-Presidente Administrativo e Financeiro da Chape, ao explicar o pedido de recuperação judicial. Ele completou dizendo que, se a situação era grave em 2021, agora ela é ainda pior e que a recuperação judicial é a última solução encontrada.
A Chape vem enfrentando momentos positivos e negativos desde 2014. O clube conseguiu chegar à Série A do Campeonato Brasileiro, conquistou títulos, mas também passou por uma das maiores tragédias da história do futebol mundial. Enquanto o clube catarinense disputou 7 vezes a primeira divisão desde então, ganhou a Copa Sul-Americana de 2016 e venceu três vezes o estadual (2016, 2017 e 2020), enfrentou, também, a situação fatídica que mudou o rumo de sua história.
O avião que transportava a equipe da Chapecoense caiu no dia 28 de novembro de 2016, enquanto estava indo para a Colômbia, para a disputa da final da Copa Sul-Americana daquele ano, contra o Atlético Nacional. Apenas seis pessoas sobreviveram à queda na cidade de La Unión, já em território colombiano. Dentre os tripulantes, além dos jogadores e da Comissão Técnica da Chape, estavam presentes também jornalistas, por exemplo. Após o acidente os rivais colombianos abriram mão da disputa e pediram à Conmebol – organizadora do torneio – que concedesse o título à Chape. Desde a tragédia o clube sofre para manter as contas em dia.
O Verdão atualmente está no 4º lugar no Campeonato Catarinense (em 9 de 11 rodadas disputadas) e está se classificando para as quartas de final da competição que teve início em 23 de janeiro e vai até 3 de abril. Os outros desafios do clube em 2022 são a Copa do Brasil (março) e, devido ao rebaixamento no ano passado, a Série B do Brasileirão (abril).
A SAF e a recuperação judicial
Devido à crise humanitária e sanitária causada pela pandemia da Covid-19, que gerou impactos também no setor esportivo, tornou-se necessário criar meios para que os clubes pudessem superar o momento delicado.
Como solução, foi sancionada a Lei 14.193/2021, publicada em 9 de agosto do ano passado, que instituiu a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), tornando possível para os clubes se converterem de Associação Civil para “Clube Empresa”.
Assim, foi aberta a possibilidade de os times utilizarem do benefício da Lei 11.101/2005 (recuperação judicial e extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária), se tornando legitimados a requerer tal procedimento.
A transformação da Chapecoense em SAF foi aprovada, de forma unânime, por seus conselheiros, no dia 23 de dezembro de 2021. Naquela ocasião, Luiz Peruzzolo destacou a importância da aprovação e falou que a data ficaria marcada na história do clube: “hoje a Chapecoense foi refundada”, comentou.
Sobre a Chapecoense
A Associação Chapecoense de Futebol foi fundada em Chapecó, interior de Santa Catarina em 1973. O clube manda os seus jogos na Arena Condá, que tem capacidade para 20.089 pessoas.
Mesmo estando a 557 km da capital Florianópolis, a Chape se tornou um dos clubes mais vitoriosos do estado. Suas principais conquistas são a Copa Sul-Americana de 2016, a Série B do Brasileirão de 2020 e sete vezes o Campeonato Catarinense (o último em 2020).
O clube tem experiência em vencer momentos difíceis, já que no Brasileirão de 2017, no ano seguinte à tragédia, o Verdão ficou em 8º lugar da competição e conseguiu se classificar para a Libertadores de 2018.
